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Taquigrafia: arte milenar em tempos de tecnologia

Por Stephanie Macêdo – Agência Alese

Enquanto os parlamentares ocupam a tribuna da Assembleia Legislativa, ao lado da mesa diretora, funcionárias do setor de taquigrafia vão se revezando para registrar os discursos. Elas integram a equipe de servidores que acompanha do plenário as sessões e transcrevem, à mão, cada palavra dita pelos deputados. Em gestos rápidos e precisos, usando uma escrita de sinais (taquigramas), com símbolos baseados e fonemas, tudo é anotado de forma simultânea.

Sempre munidas de blocos e canetas, as taquígrafas da Alese seguem anotando na sessões e também em sessões especiais. Segundo a coordenadora da Taquigrafia, Ana Suely Lobão Menezes, com 37 anos no exercício da profissão,o  trabalho  exige concentração e discrição.

Suely começou a carreira como taquigrafista na própria Alese. Para assumir a função teve que se preparar. “Fiz um curso no Senac à época, de  datilografia  e taquigrafia”, observa, ao lembrar que há diferença entre o trabalho realizado no passado para a forma atual. “Era muito diferente antes. Nós usávamos um gravador particular, com fita de rolo. Não podia ter barulho, pois atrapalhava a nitidez da gravação. Hoje existe um gravador central, onde toda a sessão é gravada e arquivada. Pois, se surgir necessidade de averiguar algo, recorremos ao áudio gravado”, explica.

Falar em taquigrafia é questionar um método que ainda emprega o uso das mãos numa época em que a tecnologia é largamente empregada. Mas a tecnologia falha e antes de utilizarem a escrita as taquígrafas usavam um gravador, mas sempre ocorriam problemas e era preciso buscar a ajuda da sonoplastia, onde os discursos são gravados. É mais seguro registrar as sessões da forma antiga.

O gravador emperra mas a mão nunca falha. Junto com sua colega de profissão, Isis Fernandes, Suely conta que certa vez foram cedidas para um evento, e foram surpreendidas pela falta de um gravador. E a ausência desse equipamento pode ser conflitante em casos de acareação do escrito pela taquigrafia com o dito pelo orador. “Já aconteceu conosco, há anos, caso em que um parlamentar negou sua fala, em ofensa a uma certa pessoa. A taquigrafia nos permite escrever simultaneamente cada frase dita, cada vírgula passada pelo parlamentar. Mas, pela necessidade de verificação, o áudio foi a prova necessária para valermos nossa credibilidade”, relata Suely.

Outra situação curiosa citada pelas taquigrafistas ocorre na transcrição de falas dos parlamentares (dos sinais taquigráficos para a linguagem natural), quando o deputado utiliza algum tipo de agressividade verbal contra alguém ou algum colega de Plenário. Segundo as taquígrafas, essas expressões, em forma de ‘xingamento’,  são subtraídas da transcrição.

A taquigrafia tem como principal regra anotar palavras com rapidez, em velocidade quase simultânea a um diálogo. Por isso essa técnica usa símbolos simples para representar fonemas (os sons das sílabas) e vogais. A importância dessa celeridade no registro taquigráfico ocorre em vários momentos durante às sessões, como no caso do parlamentar apresentar proposição de sua autoria em plenário. Tudo o que for dito pelo deputado é registrado pelo taquígrafo, uma fala transcrita em sinais.

A taquigrafista Isis Fernandes Reis  explica essa rotina durante e após a sessão plenária. “Não deixamos de registrar na íntegra o que acontece em plenário, tudo que é dito durante as sessões é transcrito “ipsis litteris”, que significa “pelas mesmas letras” ou “com as mesmas palavras”. Utiliza-se para indicar que um texto foi transcrito fielmente ao original.

“A taquigrafia relata o dia a dia da vida do parlamentar. Durante a sessão plenária nós colhemos as nossas notas taquigráficas, momento em que a cada cinco minutos fazemos rodízio, dando continuidade da fala pela colega seguinte. De lá do plenário retornamos ao setor que trabalhamos para transcrevemos todo o falado durante a sessão plenária no computador, onde há a revisão do transcrito acompanhado pelo áudio. Concluído, material revisado é impresso e arquivado, ficando disponível na biblioteca da casa”, explica Isis sobre rotina de seu trabalho.

Ela ressalta ainda que tudo o que foi transcrito pela taquigrafia, de todas as sessões, seja especial, ordinária ou extraordinária, vai para um livro. “Tudo o que acontece em plenário, falado por todos os participantes, vai para esse livro criado mensalmente para receber todos o relatos. A qualquer tempo a informação estará disponível na biblioteca da Alese, conta Isis.

Isis Fernanda relata também que  é surpreendida sempre pela curiosidade de quem vê o bloco de notas escrito por elas, cheio de símbolos. “É como se estivessem se  deparando com um emaranhado de coisas sobrepostas. Não são desenhos, são notas taquigráficas. Nessas notas há símbolos, palavrinhas, meias palavrinhas e não os ditos garranchos. São técnicas, sinais taquigráficos”, adverte Isis.

Na Assembleia Legislativa de Sergipe o ofício passa de mãe para filha. Glayse Mara Azevedo, taquigrafista há 17 anos, ingressou no Poder Legislativo em 2001. Revela que a profissão de taquígrafa vem de família. “É uma profissão que vejo desde criança e de dentro de casa, pois a minha mãe e minha tia eram taquigrafistas. Minha mãe hoje está aposentada, mas era taquígrafa da Assembleia. Já está no sangue, é uma profissão quem está no DNA da nossa família. No meu caso, foi a curiosidade”.

Glayse afirma que enfrenta a curiosidade das pessoas de forma natural. Ela também se surpreendia com os escritos da mãe. “Quem não entende a técnica pensa que são símbolos, desenhos. Via aquilo e fiquei curiosa. Ao crescer, fui me aperfeiçoar, fazer alguns cursos e desde então estou com 17 anos no exercício da profissão”, conta.

Concurso público

Glayse Mara comemora a criação de concurso na Alese, e sua aprovação na primeira fase. Segundo ela, diante de concurso ofertado na Assembleia, com provas realizadas em abril deste ano, obteve classificação na primeira fase para o cargo de Taquigrafista. “Vivemos aqui com décadas na profissão e sem a estabilidade de um concurso. O concurso dá a segurabilidade necessária, saindo do cargo de comissão para o efetivo”.

O setor de taquigrafia da Assembleia Legislativa de Sergipe conta atualmente com oito taquigrafistas, sob a coordenação de Suely Menezes, a mais antiga do setor. Antes delas, outras mulheres taquigrafistas passaram pelo Poder Legislativo e contaram da mesma forma a história da vida política de Sergipe.

Uma arte

A taquigrafia é uma técnica – ou uma arte – que remonta à antiguidade. Os primeiros registros de um sistema organizado de escrita rápida datam de 63 a. C., época dos grandes oradores romanos. Marco Túlio Tiro inventou um método taquigráfico que foi usado para anotar os pronunciamentos de Cícero, Sêneca e outros membros do Senado. O sistema de Tiro foi ensinado nas escolas romanas, aprendido por imperadores e amplamente utilizado. A taquigrafia de princípio fonético, hoje largamente utilizada, foi criada pelo reverendo inglês Phillip Gibbs, em 1736.

A taquigrafia já era uma arte plenamente desenvolvida quando foi adotada para registrar as atividades parlamentares. A instituição oficial da taquigrafia parlamentar no Brasil data do dia 3 de maio de 1823, por iniciativa de José Bonifácio de Andrade e Silva, quando se abriram os trabalhos da primeira Assembleia Constituinte. Sem essa iniciativa, como então ainda não havia meios eletrônicos de registro de voz, os debates e discussões ocorridos durante a elaboração da nossa primeira Constituição, cujo registro forma riquíssimo manancial de estudos históricos, teriam sido irremediavelmente perdidos.

 

 

Foto: Jadilson Simões

 

 

 

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