Dados alarmantes demonstram altos índices de violência contra jovens negros no Brasil. Foi com essa preocupação que a Assembleia Legislativa de Sergipe (Alese) colocou a temática em caloroso debate em Audiência Pública na manhã desta sexta-feira, (20), em seu plenário. Uma realização da Comissão de Educação, Cultura e Desporto da Assembleia Legislativa de Sergipe (Alese), presidida pela deputada estadual Ana Lúcia (PT).
De acordo com dados do Atlas da Violência, o Brasil é o país onde mais se mata no mundo, essa violência se concentra principalmente nos jovens pobres e negros, já que dos 60 mil assassinatos em 2014, mais da metade são pessoas com idade entre 15 e 29 anos, e destes mortos, 77% eram negros.
Questionada sobre a aplicabilidade das políticas públicas direcionada à temática, a deputada estadual Ana Lúcia revela que são mais de 500 anos sem propostas públicas no Brasil, mas que é preciso uma política de educação, na qual o ensino publico seja contextualizado e a juventude tenha a oportunidade de refletir sobre sua realidade.
“Temos muito pouco tempo para superarmos 300 anos de escravatura. Até hoje vivemos as consequências do escravismo, mas as políticas públicas começam sim a dar resultados, com o resgate da identidade negra e da ancestralidade para nossa cultura, tudo isso tem fortalecido e encorajado às pessoas a assumirem sua negritude, estudar a história da África, a influência na nossa cultura, na nossa história”, descreve a parlamentar.
Para o deputado federal, autor do projeto de resolução que criou a Comissão Permanente de Direitos Humanos, Paulo Fernando dos Santos (PT/AL), é preciso definir focos nas políticas públicas. “Precisamos discutir educação nas academias e com a sociedade sobre essa intolerância, o ódio e a discriminação contra a os negros. O debate não deve terminar, é importante provocá-lo e criar ações de curto, médio e longo prazo”.
De acordo com o representante do Planejamento e Pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (IPEA), doutor em Economia, Daniel Cerqueira, a violência contra os negros é um processo que vem há décadas. “Especificamente em 1980, o número de homicídios vem aumentando e vitimando cada vez mais jovens negros, pobres e com baixa escolaridade”.
Para ele, há dois motivos, dentre tantos que se destacam, para o aumento da violência no Brasil. “O primeiro é a falta de investimento em educação e oportunidades para a juventude negra e o segundo é o racismo. Existe um mito sobre democracia racial em nosso país. Mas na prática, não a vemos. A discrepância de salários entre brancos e negros com a mesma escolaridade e ainda as abordagens da polícia à população negra, são dois viés do racismo”, argumentou Cerqueira.
O também estudioso da economia do crime e segurança pública, Daniel Cerqueira acrescentou que observa em poucos lugares, o comprometimento dos governos com políticas públicas voltadas para os homicídios de jovens negros. “Há muito debate, mas sem comprometimento. Vemos poucas ações práticas”.
Sergipe: Primeiro embaixador negro do Brasil
A presidente da Comissão de Educação, Cultura e Desporto da Assembleia Legislativa de Sergipe (Alese), deputada estadual Ana Lúcia (PT), destacou a história do primeiro embaixador negro do Brasil, o sergipano Raimundo Souza, que em breve receberá homenagem na Casa Legislativa.
OAB/SE
Para o presidente da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil, Seccional Sergipe (OAB/SE),Thiago Oliveira, o papel da Alese em propor debate sobre as questões da violência contra os negros, demonstra interesse nas problemáticas sociais, na tentativa de solucioná-las. “Para se ter uma ideia, há estudos no Brasil que comprovam que em 2004 a 2007 fora assassinados mais jovens negros, que na Guerra do Afeganistão. Podemos classificar como um genocídio de nossa juventude negra”, finalizou.
Houve apresentação do grupo de percussão do músico Tonico de Ogum. Proferiu discurso também, o representante da Coordenadoria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Secretaria de Estado da Mulher, da Inclusão e Assistência Social, do Trabalho e dos Direitos Humanos (SEIDH), Eude Carvalho. Também estiveram presentes, o deputado estadual Georgeo Passos, o promotor do Ministério Público do Estado de Sergipe (MPE/SE), Fausto Valois, o representante da Defensoria Pública, Herick Argolo e o militante histórico de Direitos Humanos, Pedro Montenegro.
Por Tíffany Tavares – Agência Alese de Notícias