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Ana Lula faz balanço dos 16 anos como deputada

Após 16 anos de mandatos na Assembleia Legislativa de Sergipe, a deputada Ana Lúcia Vieira, recentemente chamada de Ana Lula (por desejo após a prisão do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva), decidiu encerrar a carreira. Na manhã desta quinta-feira, 13, ela fez o seu último pronunciamento na tribuna da Alese. Antes ela recebeu a equipe da Rede Alese para uma entrevista.

 

Momento da entrevista à Rede Alese

Aldaci de Souza – Deputada, hoje é um dia de muita emoção quando do seu último pronunciamento como parlamentar na tribuna da Assembleia Legislativa de Sergipe. A senhora fará uma retrospectiva do seus quatros mandatos?

Ana Lula – Foram 16 anos aqui nesta Casa, muitos desafios e hoje faço meu último pronunciamento como parlamentar. Hoje é meu último pronunciamento como parlamentar. Eu espero que a Casa possa me convidar para fazer outros pronunciamentos a partir dos desafios da sociedade. Farei sim uma retrospectiva da minha vida, desde os 14 anos eu tenho uma forte influência do meu tio Osman Hora, que eu chamava de paizinho, do meu irmão o poeta Mário Jorge e também do outro tio Humberto Andrade, que foi inclusive secretário de Segurança Pública de Miguel Arraes. Então a minha trajetória tem um projeto político estratégico que é de uma sociedade solidária, que a gente aprende a viver nas divergências, nas diferenças, com respeito, com comportamento fraterno e portanto, eu já tinha opções políticas ideológicas claras.

AS – Os seus mandatos abriram a Assembleia Legislativa para o povo vir a esta Casa discutir as principais demandas e aflições com os deputados por meio das audiências públicas. Isso trouxe muitas conquistas?

AL – Sim. Para uma militante social, o espaço para expressar seus valores não é limitado fisicamente e, sobretudo, não é limitado aos espaços “permitidos”, “tolerados” pela estrutura social dominante. Em 2009 quando eu voltei da Secretaria de Inclusão, Iran Barbosa, era deputado federal e nós fizemos boas parcerias de seminários temáticos (agradeço aos presidentes e ex-presidentes do Tribunal de Justiça que sempre cederam o auditório), a exemplo da questão da criança e do adolescente, da educação, violência nas escolas; grandes temas que a sociedade precisa debater. Já a partir do meu terceiro mandato eu intensifiquei as audiências públicas principalmente nesse último, porque o presidente da Assembleia, deputado Luciano Bispo abriu, respeitou o Regimento Interno, dando condições de fazermos as audiências públicas, pois fazíamos no espaço pequeno da Sala de Comissões e sem a transmissão ao vivo. Só na gestão Luciano Bispo foi que conseguimos fazer no plenário e com interpretação regimental ao vivo para que a população acompanhe a transmissão de casa, principalmente a escuta do Parlamento, único poder plural, a partir da escolha do povo. É uma casa de conflitos e confrontos de ideias, de pensamentos.

AS – A senhora sempre esteve na oposição, mesmo em momentos em que o governador era aliado?

AL- Não. Eu tive os oito anos na gestão de Marcelo Déda na situação, mas fazendo as minhas críticas porque isso aqui é um poder independente, harmonia de poder não significa subserviência de um poder a outro.  No meu primeiro mandato eu fiz quatro anos de oposição mesmo o partido sendo da bancada, eu rompi e fiz oposição a Jackson Barreto.

AS – Mesmo com discursos acirrados, a senhora sempre teve o respeito dos colegas parlamentares não foi?

AL – Bastante respeito e bastante disputa político-ideológica (uma das marcas do meu mandato), com o deputado Venâncio Fonseca. No início do meu primeiro mandato tive muita disputa com o deputado Augusto Bezerra, menos agora nesse último mandato. Mas as disputas eram acirradas em termos de concepção, de prática, pois ficou configurado uma mulher socialista, de esquerda disputando com deputado de direita, conservador, ambos assumindo suas opções políticas e ideológicas.

AS – A senhora tem muita gratidão nesta Casa?

AL – A gratidão primeiro ao povo que me conduziu para esta Casa e segundo a forma como sempre desfrutamos com uma convivência respeitosa, inclusive chegando a ter amizades com as pessoas que discordam frontalmente da nossa forma de ver o mundo e de estar no mundo. Isso também é uma coisa que eu aprendi com a minha  família.

AS – E como é essa relação com a sua família?

AL – A família da minha mãe, a família Sobral é muito conservadora na sua maioria e eu aprendi a conviver com essas diferenças, respeitando e não rompendo com o afeto que tenho por todos eles. A família Menezes já é mais progressista, a Vieira também que é do meu pai é progressista e a gente aprende a lutar por aqueles valores que prejudicam a humanidade sejam rompidos e ultrapassados, a gente já faz a opção sabendo que tem muitos desafios, muitas interdições e é isso que faz a gente construir a caminhada.

AS – A senhora retorna às salas de aula no próximo ano?

AL – Eu volto por uma necessidade de recuperar uma vantagem. Não sou aposentada ainda; fiz uma opção político-ideológica desde o primeiro dia, seguindo o regimento do Partido dos Trabalhadores. Não fiz uma opção pela aposentadoria de deputada porque é uma previdência própria; continuei pagando a minha aposentadoria de professora e para eu pedir aposentadoria tenho que voltar para a sala de aula para recuperar minha regência. Retorno e vou ver até quando eu aguento estar na sala de aula com todos os desafios, mas é uma atividade prazerosa pra mim, opção que fiz desde a minha adolescência quando meu irmão Mário Jorge foi expulso do Colégio Atheneu e naquele desespero sem saber aonde estudar pois as demais escolas eram privadas e não iam aceitar um adolescente de 16 anos com um estigma comunista. Então nesse desespero, eu disse  que ia ser professora para evitar que isso acontecesse, mas isso era o idealismo de uma adolescente de 14 anos.

AS – O que esperar do Brasil?

AL – Esse é um ano muito difícil, desafiador, com um presidente da República que se assume ultradireita; não só conservador, mas uma pessoa com pouca leitura histórica, sociológica, antropológica, de difícil relacionamento quando se trata das necessidades do ser humano. Eles e seus seguidores dizem claramente que querem que a gente morra, que sejam exterminados. Será um ano de muitos desafios para o Partido dos Trabalhadores e todos os outros partidos de Centro e Forças Progressistas.

AS – Como a senhora está vendo a questão do projeto “Escola sem Partido”?

AL – A sociedade e as forças progressistas tiveram uma vitória que foi de arquivar o projeto da escola sem partido, chamado projeto da mordaça. Mas provavelmente no próximo ano eles vão colocar na pauta porque o presidente da República defende exatamente você anular a ciência, a história, o conhecimento nas escolas. Não existe isso de escola sem partido. Escola do partido do presidente da República. Não queremos isso e a mensagem que eu deixo é de que a esperança tem que permear sempre a nossa vida, pois é o porvir é o que mobiliza todos nós para resistirmos e construirmos um novo mundo.

Por Aldaci de Souza e Júnior Ventura – Rede Alese
Fotos: Jadilson Simões

 

 

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