A deputada estadual Ana Lúcia entregou a Medalha de Direitos Humanos Dom José Vicente Távora nas mãos do professor e advogado Wellington Mangueira e da Freira belga radicada em Sergipe, Irmã Francisca, duas pessoas que dedicaram suas vidas à defesa dos direitos humanos e ao enfrentamento a dois gargalos que desafiam até hoje a democracia no país: o autoritarismo do regime militar e os coronéis do latifúndio sergipano.
A outorga aconteceu nesta terça-feira, 12, no plenário da ALESE. A medalha é entregue anualmente como forma de reconhecer a atuação e a coragem de luta em defesa dos direitos fundamentais da pessoa humana em nosso Estado pela Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Sergipe, regulamentada pela Resolução 35/2010 de autoria de Ana Lúcia.
“Defender Direitos Humanos, sobretudo no contexto em que estamos imersos, é tarefa desafiadora. Exige firmeza na concepção, disciplina militante e fé nas pessoas e na transformação social. E essas características marcaram a vida de nossos dois homenageados de hoje, da mesma forma que a luta travada por eles em defesa deste modelo de sociedade marcou a história do nosso Estado”, destacou Ana Lúcia.
“Onde estão os Direitos Humanos hoje? Estão pisoteados neste nosso rico Brasil. Quem são estes que se permitem roubar estes direitos dos seus semelhantes? Eles têm nome. São estes que mantém o poder ilegítimo, que se enriquece às custas do maior número de brasileiros”, disparou Irmã Francisca, emocionando a todos com seu discurso direto, crítico e visceral.
“Com esta medalha no pescoço me sinto pequena olhando para nossa gente. Por que não podemos voltar a falar a linguagem da paz nos diversos setores? Paz que é o direito supremo. Este poder esmagador deve ser vencido pela força dos pequenos. E nos cabe ajudá-los para uma conscientização esclarecida, para que voltem a acreditar em um outro Brasil e num mundo novo e humano. A esperança é a última que morre”, motivou Irmã Francisca, enchendo a todos de esperança.
“Estou muito honrado e muito feliz em receber esta medalha. Esta comenda representa muito porque Dom José Vicente Távora era um homem de bem, a ponto de ser acusado de comunista por defender os pobres e os operários”, agradeceu o homenageado Wellington Mangueira, ressaltando o valor do patrono da homenagem.
Participaram da homenagem amigos e familiares dos homenageados, além de pessoas que vivenciaram lado a lado as lutas travadas por eles. Estiveram presentes os secretários João Augusto Gama e Benedito Figueredo, o ex-secretário Gilton Garcia, do sindicalista Nivaldo Fernandes, o professor Getúlio Santos, a delegada geral Katarina Feitoza, o coordenador da Defesa Social, coronel Luiz Fernando Silveira. Leigos e religiosos também foram prestigiar a homenagem: o bispo de Propriá, Dom Mário Rino, o padre Marcelo Conceição e Padre Isaías Nascimento.
Homenageados
Advogado e professor, Wellington se tornou sinônimo da luta em defesa dos direitos humanos em Sergipe pela resistência frente à ditadura militar: Foi Líder estudantil durante a juventude, militante histórico do Partido Comunista Brasileiro e preso político. Após a redemocratização, desempenhou diversas funções e cargos públicos com ética e sempre na defesa de um projeto de sociedade humanista. Foi professor de diversas escolas da rede pública de Sergipe, percorreu diversas secretarias de Estado e dos municípios de Aracaju e Nossa Senhora do Socorro como assessor e como secretário, inclusive de Segurança Pública de Sergipe. Atualmente é Presidente da Fundação Renascer.
Ao remontar a trajetória de Wellington Mangueira, Ana Lúcia rememorou momentos que marcaram com sangue a história do país: a ditadura militar. “Em 1964, a população brasileira teve suas liberdades e seus direitos usurpados pelo Golpe Militar, que instituiu uma violenta ditadura. Nestes longos e tristes 21 anos, Wellington sofreu inúmeras repressões, perseguições e torturas”, ressaltando ainda a relação de profunda amizade do homenageado com seu irmão, o poeta Mario Jorge, que também sofreu com o peso da repressão da ditadura militar. “O sofrimento aproxima as pessoas e as famílias. Assim, juntos, a esperança foi mantida, permeando a vida de cada um que sonhava e sonha com o direito à felicidade para toda a população brasileira”, completou.
Freira belga radicada em Sergipe, Irmã Francisca tem sua vida marcada pela coragem e pela opção de defender os mais pobres. Belga de nascimento, sergipana de coração e de direito – por iniciativa de Ana Lúcia, que lhe concedeu o título de cidadã sergipana – Irmã Francisca dedicou quase 50 dos seus pouco mais de 80 anos à população de nosso Estado. Seu trabalho de evangelização inspirou – e permanece inspirando – e contribuiu fortemente com a organização dos trabalhadores rurais sem terra, dos quilombolas e da população mais pobre das cidades por onde passou: Japaratuba, Ilha das Flores, Pacatuba e toda a região do Baixo São Francisco.
Ao contar a história de vida de Irmã Francisca, Ana Lúcia destacou sua coragem, força e determinação na busca da justiça social. “Irmã Francisca enfrentou poderosos, toda sorte de jagunços, não temeu as calúnias ou ameaças, e manteve-se sem titubear na esperança, na ternura, na fé e na caridade. Pela sua coragem e sua capacidade de estimular a organização dos mais pobres rumo à libertação, ela chegou a ser expulsa, por duas vezes, das cidades em que vivia – Canhoba e Ilha das Flores – evangelizava e plantava sementes da libertação”, contou a parlamentar.
Por, Assessoria Parlamentar