O risco do uso de energia nuclear foi a temática debatida na manhã desta quinta-feira, 7, na Assembleia Legislativa de Sergipe. O debate foi motivado pelo anúncio do Governo Federal de que poderá instalar uma usina nuclear no nordeste Brasileiro, às margens do Rio São Francisco. Sergipe é um dos estados que concorrem para receber a obra. Para provocar a discussão, a deputada estadual Ana Lúcia apresentou requerimento convidando o ativista da ONG ambientalista Greenpeace, Thiago Fonseca Carbonari, para proferir palestra no Grande Expediente da sessão plenária.
Em sua exposição, Thiago apresentou um panorama dos prejuízos do uso da energia nuclear, que vão desde os altos custos, impactos ambientais e sociais, até os riscos de acidentes fatais. O ativista apresentou, em contrapartida, as vantagens do uso de energias renováveis, a exemplo da eólica e solar, além das hidrelétricas que jé existem no pais.
“Essas fontes de energias são seguras, limpas e baratas. Além disso, o Brasil está entre os 5 países com maior potencial solar e eólico do mundo. O pior local de irradiação do Brasil é 20% superior ao melhor local de irradiação da Alemanha, que já tem dois milhões de residências com placas fotovoltaicas”, argumentou. Ele sugeriu ainda que os deputados estimulem a utilização de energias renováveis, articulando ações e recursos, para solarizar escolas e outros espaços públicos.
Assim como o Brasil, apontou Ana Lúcia, Sergipe tem um imenso potencial de energia limpa, sobretudo a solar e a eólica. “Adotar a energia nuclear aqui no Brasil, especialmente no nordeste, é um retrocesso, pois gera uma insegurança muito grande e um alto risco de impactos ambientais e sociais”, destacou a deputada, que além de autora do requerimento, é coordenadora da Frente Parlamentar de Meio Ambiente, Comunidade Tradicionais e Segurança Alimentar.
As tecnologias de geração de energia renováveis, sem contar as grande hidrelétricas, já recebem mais investimento que todas as outras fontes, movimento inverso ao que tem ocorrido com a energia nuclear, explica o especialista. “80% dos reatores de todo o mundo tem mais de 25 anos de idade. Isso indica que a indústria da energia nuclear está diminuindo e caminha para o seu fim”, avaliou, apontando que a Alemanha, por exemplo, está desativando todas as suas usinas, e em substituição, tem incentivado a utilização da energia solar.
Riscos em Sergipe
Thiago alertou para os altos riscos na produção da energia na usina, no transporte, na retirada e no armazenamento do lixo radioativo, que são uma das principais ameaças da energia nuclear. Ele chamou a atenção para o impacto que seria causado no nordeste brasileiro, em caso de acidente. “Vamos imaginar o raio de evacuação que existe até hoje em Chernobyl, que é de 300 km. Caso ocorresse aqui, seria necessário evacuar o estado inteiro de Sergipe”, alertou.
Outro aspecto que precisa ser analisado com seriedade é o risco de vazamento radioativo no Rio São Francisco, local escolhido para, com suas águas, resfriar os reatores da usina. Em caso de incidente, o Velho Chico vai carregar a radioatividade ao longo de toda sua extensão. “Estamos falando de um rio que abastece milhares e milhares de pessoas, e não apenas para o consumo, mas para a agricultura, para a sobrevivência”, alertou Thiago Fonseca.
Impactos ambientais, econômicos e sociais
Thiago rememorou os desastres nucleares causados pela utilização deste tipo de energia em Fukushima, em 2011, e em Chernobyl, em 1986, que causaram sérios danos à saúde população da região. Câncer câncer de tireóide, enfermidades cardiovasculares, problemas no sistema nervoso e transtornos psicológicos, são alguns dos comprometimentos que podem ser causados pela contaminação por radiação.
“Em Chernobyl, num raio de 30 km da usina não se pode habitar. Num raio ainda maior, há limites de radiação, e é necessário fazer acompanhamento constante do nível de radiação nas pessoas, na comida que elas comem, no solo que eles plantam, na água que eles bebem”, apontou. Estas medidas, apontou o especialista, geram altíssimo custo. Em Chernobyl, os custos com o desastre nuclear já chegou a mais de um trilhão e meio de dólares.
Para além dos impactos ambientais e econômicos, é necessário chamar a atenção para os graves impactos sociais gerados.“Milhares de pessoas tiveram suas vidas completamente destruídas. Toda sua rede de amigos, familiares, toda a vida a que eles estavam acostumados, simplesmente desmoronou”, lamentou Thiago, destacando a alta incidência de suicídio ente a população deslocada.
Mundo contra a energia nuclear
As galerias da Alese ficaram lotadas de militantes ambientalistas, estudantes, sindicalistas, professores da rede pública e. Também acompanharam a sessão jovens intercambistas da Áustria, Alemanha, Argentina, Dinamarca, França e Colômbia, que estão em Sergipe pesquisando o potencial das energias alternativas. Eles participam de projeto de pesquisa coordenado pelo engenheiro mecânico, professor da Universidade Federal de Sergipe e militante ambientalista, Paulo Mário.
“Quero com todo o respeito implorar aos senhores deputados presentes para tomar uma posição firme contra a energia nuclear. É preciso pensar profundamente no bem estar do seu povo, o povo sergipano, pensar nas oportunidades que vocês têm aqui no Brasil de recursos naturais, e pensar no bem estar do mundo inteiro. Não à energia Nuclear, sim às energias renováveis!” destacou Jennifer, estudante estadunidense. “Me pergunto até quando os interesses econômicos vão ser mais importantes que proteger nosso futuro, que é a vida, que são nossas crianças”, completou a colombiana Paula.
Por Débora Melo, Ascom Parlamentar Dep. Ana Lúcia