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Juiz José Anselmo debate o racismo estrutural no Projeto Quintas Negras

Por Aldaci de Souza – Agência de Notícias Alese

“Antes da pele nós somos pessoas humanas e isso faz a diferença”. A afirmação foi feita na manhã desta sexta-feira, 4, pelo juiz do Tribunal de Justiça de Sergipe, José Anselmo de Oliveira, para alunos e professoras de História e de Sociologia do Colégio Estadual Tobias Barreto. Ele foi o palestrante da última edição do Projeto Quintas Negras (de 2022), debatendo no auditório da Escola do Legislativo João de Seixas Dória, o tema: Racismo Estrutural. 

José Anselmo diz que o racismo estrutural atinge todas as classes

O racismo estrutural  é definido como o preconceito e a discriminação presentes na própria estrutura da sociedade; geralmente  está enraizado nos costumes e cultura organizacional de atores públicos e privados, com a desvalorização de pessoas negras e a perpetuação da desigualdade; ou seja, a falta de oportunidades e a segregação.

De acordo com o juiz,  a primeira dificuldade de falar sobre o tema é compreender que o racismo estrutural atinge todas as camadas, todas as estruturas do estado e há uma certa falta de letramento, pois racismo não é simplesmente o que as pessoas acham.

“O fato de as pessoas serem amigas de pretos não significa que não não racistas. Se é racista na conduta, na forma como se encara. Por exemplo, quando um preto ou pardo é preso, a primeira coisa que vem na cabeça de qualquer pessoa, independente da cor, é que deve ser culpado. Quando é um branco, há sempre uma dúvida. Eu digo sempre que essa é uma questão de educação profunda, que durante muitos séculos, foram colocadas as pessoas prestas em lugares que não eram de poder, não eram da elite econômica e dos melhores lugares da Educação. Quando eu cheguei no curso de Direito da Universidade Federal de Sergipe, só tinha eu e outro colega preto, o Dr. José Lima; e o curso era realizado pela manhã para que pretos, pobres não pudessem entrar. Eu fui um preto pobre ousado, que passou no primeiro vestibular, no primeiro concurso entrou na magistratura há 33 anos, fiz mestrado e faço palestras no Brasil à fora e tenho um livro publicado nacionalmente”, afirma.

Dificuldades

Vera Vilar destacou o projeto Quintas Negras

Sobre as dificuldades enfrentadas, Dr. José Anselmo foi enfático: “Tenho consciência das dificuldades enfrentadas, então falar com as pessoas sobre isso é despertá-las às vezes daquela ideia falsa de que o Brasil é uma verdadeira democracia racial  e que o brasileiro é cordial, mas o brasileiro é cordial quando vê a mulata no samba e quando vê o jogador preto correndo atrás da bola na Seleção Brasileira; isso tudo é falso, porque na verdade quando um preto corre na rua é porque tem a polícia atrás. Infelizmente essa é uma realidade cruel e que é retroalimentada pela falta de cultura da nossa própria sociedade”, lamenta,

O juiz acrescentou enfatizou que o tema do racismo não deve ser debatido apenas para jovens, mas o ideal é que comece a ser falado com as crianças. “Eu tenho dois filhos (hoje adultos) e desde crianças eu mostrava pra eles a realidade, pois poderiam passar por discriminações e preconceitos, deveriam estar preparados, como estão graças a Deus. Esse tema não é pra ser falado somente nas universidades, mas na Pré-escola, para as crianças que estão sendo alfabetizadas, para as crianças do Ensino Fundamental  e para os adolescentes”, entende.

Professora Cláudia Guimarães falou sobre a importância do tema

Sobre o projeto Quintas Negras realizado pela Elese, ele disse ser fundamental. “A Escola do Legislativo tem cumprido um papel muito importante porque debate esse tema que eu acho fantástico, mas eu tenho acompanhado outros projetos como a História de Sergipe, a questão cultural sergipana; então toda vez que qualquer instituição do estado promove essas informações para um público tão diverso, ganha principalmente a cidadania”, acredita.

Participantes          

A professora de História, Cláudia Cristiane Guimarães Pinto afirmou que o Racismo Estrutural está dentro da temática sobre a escravidão discutida no projeto com as disciplinas integradores desenvolvido para estudantes do ensino médio. “Nessa temática da escravidão, nós estamos debatendo se realmente somos livres e em parceria com a Escola do Legislativo, com o projeto Quintas Negras, nós estamos aqui com uma média de 80 alunos e a professora de Sociologia Flávia Ferreira para assistir a essa palestra do Dr. Anselmo de Oliveira, que falou sobre o racismo cultural e esperamos que eles aproveitem bem essa oportunidade”, ressalta.

Bruno Borges: “Muitas pessoas se deixam levar”

Para o aluno do 2º Ano do Ensino Médio do Colégio Tobias Barreto, Bruno Barbosa Borges, falou sobre a importância da palestra. “Muitas pessoas se deixam levar por informações sem procurar saber o que realmente acontece com quem veio de baixo, de uma situação que não hoje já não é a delas, é importante para alertar, pois muita gente tem a mente fechada e não quer sair da situação confortável para se aventurar, conhecer coisas novas entender e respeitar”, diz.

Anotando pontos da palestra, a estudante do 2º Ano D, Camile Vitória Silva Souza, destacou que o juiz José Anselmo mostrou uma realidade, uma vivência. “Apesar de tudo só se pode falar daquilo que já sentiu na pele. O palestrante demonstrou e falou muito bem sobre o lugar que a gente pode chegar não é o que as pessoas determinam, mas o que conseguimos com o nosso esforço. ou seja, o conhecimento é a base pra se chegar aonde deseja, independente de cor, religião, gênero. O caminho não é o da direita ou da esquerda, mas do estudo”, observa.

Quintas Negras

Camile Vitória (ao centro) anotou vários pontos durante a palestra

A idealizadora do Quintas Negras, Vera Vilar informou na abertura do evento que o projeto foi iniciado em 2019, aprovado pela diretora da Elese, Isabela Mazza e pelo presidente da Assembleia Legislativa de Sergipe, deputado Luciano Bispo e o então coordenador Irineu Fontes. “De lá pra cá, o projeto Quintas Negras acontece mensalmente com temáticas diferenciadas e hoje estamos trazendo o Dr. José Anselmo de Oliveira, que além de juiz é poeta e uma figura brilhante para discutir o tema: racismo estrutural”, diz.

Fotos: Joel Luiz

 

 

 

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