Convidados para debaterem o direito humano universal de acesso à água e a defesa da Companhia de Saneamento de Sergipe (DESO) como patrimônio público do povo sergipano, alguns especialistas explanaram e debateram com centenas de trabalhadores da Deso e com deputados estaduais contra o processo de privatização da empresa pelo Governo do Estado.
Um dos maiores especialistas no assunto, o Professor Luiz Roberto Santos Moraes, PhD (MAASA/EP/UFBA), defendeu a união de forças para impedir que a Deso seja privatizada. “A gente está vendo o mundo inteiro discutindo esse assunto. Três entidades internacionais de peso elaboraram um estudo, durante 15 anos, e mostraram que 130 grandes cidades no mundo municipalizaram o sistema de abastecimento de água e de esgotamento sanitário”.
Segundo ele, a tendência mundial é a estatização desses serviços. “Isso já passou pelas mãos dos setores privados e eles provaram que são incompetentes e inadequados. A reação da sociedade não poderia ser diferente aqui em Sergipe contra essa possível privatização. As pessoas precisam se unir e se manifestar porque o saneamento é essencial à vida do povo. E quando eu falo saneamento básico eu trato de abastecimento de água, esgotamento sanitário, manejo das águas de chuva, manejo dos resíduos sólidos e outras atividades que devem ser prestadas pelo serviço público e com o devido controle social”.
Urbanitários
Na mesma linha de raciocínio, o presidente da Federação Nacional dos Urbanitários, Pedro Blois, disse que a privatização representa o aumento imediato da tarifa. “Isso vai alijando a população a ter acesso a este bem. A energia, por exemplo, hoje em dia o povo paga um valor altíssimo para ter acesso. Aí ou a pessoa se alimenta ou se paga a água. Sem contar que as empresas não vão fazer os investimentos necessários para levar esses serviços para as áreas mais periféricas, priorizando aquelas áreas que são mais rentáveis”.
Pedro Blois disse que isso tem acontecido em cidades como Recife (PE), Cuiabá (MT) e Manaus (AM), onde parte da população não tem acesso ao abastecimento de água depois da privatização. “As pessoas têm que procurar alternativas, cavando poços para o consumo diário, lazer, alimentação e higiene pessoal. Sem contar que houve redução no quantitativo de pessoal. Este é um setor específico porque ele requer uma mão de obra qualificada. As empresas não levam isso muito em consideração. Em dezembro, antes do Natal, na cidade de Serra (ES), a empresa demitiu cerca de 100 funcionários, inclusive operadores de água e de esgoto, e o município ficou sem ter quem preste este serviço com eficiência”.
O sindicalista entende que a saída para a Deso não é a privatização. “O Governo Federal diz que vai entrar com 80% dos recursos para se faça as privatizações das Companhias Estaduais. As empresas vão entrar com 20%. Mas muitas vezes o privado pega o recurso público e não investe na universalização do serviço. Em Itu (SP) nós temos um exemplo clássico quando na crise hídrica, ano passado, a empresa se absteve da situação e a Prefeitura teve que assumir tudo. Na briga judicial, o Município conseguiu agora cancelar o contrato e ele está responsável pela prestação dos serviços”.
Sindisan
Por fim, quem também se posicionou contra a privatização foi o presidente do Sindicato dos Trabalhadores na Indústria da Purificação e Distribuição de Água e em Serviços de Esgotos do Estado de Sergipe (Sindisan), José Sérgio Passos. “A gente coloca que com R$ 30,80 uma família com quatro pessoas passa um mês tendo água tratada em sua casa. E tem a tarifa social da Deso, para famílias de baixa renda, que custa R$ 15,40. Segundo a ONU, água tratada e saneamento básico fazem parte dos direitos universais do homem. Então a água não pode ser privatizada e sim universalizada”.
Em seguida, José Sérgio Passos explicou que o governo de Sergipe caminha na “contramão da história”. “Quando o governo fala em privatizar a Deso nós alertamos para o risco futuro. A próximas guerras que teremos no mundo será pela água e nós não podemos entregar este líquido precioso ao capital privado. A luta contra a privatização não é apenas dos trabalhadores, mas de toda a sociedade. Quem privatizou este serviço, enfrentou muitos problemas. Todo cidadão tem que ter acesso á agua e com qualidade”, colocou.
O presidente do Sindisan conclamou a sociedade para se mobilizar em defesa da Deso. “No próximo dia 24 teremos o bloco Siri na Lata e o povo precisa ir para as ruas. No dia Mundial da Água vamos fazer uma grande manifestação. Só com a pressão popular que este governo privatista vai recuar”, disse, acrescentando que a assessoria jurídica do sindicato já está acionando judicialmente o governo questionando qualquer ação de privatização da Deso.
Por Agência de Notícias Alese
Foto: Ivan Kelleros