Por Habacuque Villacorte – Rede Alese
A Assembleia Legislativa de Sergipe, por iniciativa do deputado estadual Iran Barbosa (PT), promoveu na manhã dessa sexta-feira (27), uma audiência pública para discutir os dados da violência no Brasil com base nos números do Atlas de 2019, publicado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), em julho deste ano. A exposição foi ministrada pelo doutor em Economia pela PUC/Rio, Daniel Ricardo de Castro Cerqueira, pesquisador do Ipea e um dos coordenadores da pesquisa.
O deputado estadual Iran Barbosa pontuou que o objetivo da exposição foi para que as possam ter acesso a atualização dos dados para compreender melhor a realidade da violência no Brasil e em Sergipe. “Para enfrentar qualquer cenário eu aprendi, ao longo da minha vida, que é necessário que tenhamos conhecimento da realidade. Foi para isso que nós promovemos esta audiência pública. É uma grave doença social que temos nos Mundo, que é a violência”.
Daniel Cerqueira
Por sua vez, o expositor fez uma espécie de “radiografia” da violência na última década e detalhou as razões que levaram à queda dos homicídios. Segundo ele, nos últimos anos, tem aumentado o número de Estados da Federação que conseguiram reduzir os registros. “Mas de 2015 para cá tem aumentando, consideravelmente, os crimes de ódio! Falamos de feminicídios, homofobia, racismo, mas também vamos mostrar que existe uma luz no final do túnel, que existe solução! Temos vários estudos do que funciona e do que não funciona”.
Daniel Cerqueira disse ainda que se baseia nos dados divulgados até 2017 e pontuou eu nós estamos perdendo a nossa juventude. “Antes da morte física, nas periferias, existe a morte simbólica de muitos jovens que foram abandonados à própria sorte, sem condições de desenvolvimento infantil, sem acesso à Educação e ao Mercado de Trabalho. Entre os jovens de 20 a 24 anos que morreram, 55,7% foram vítimas de homicídios. E esse crescimento fica mais acentuado no Norte e no Nordeste”.
Sobre Sergipe ele destacou que, entre 2016 e 2017, houve uma reversão no processo com uma queda em torno de 11,3% de redução nos homicídios. Para ele é uma possibilidade das mortes virem a diminuir, com políticas eficientes e debates, com informação e conhecimento. “Há uma mudança demográfica em andamento e nós estamos envelhecendo a população. Do ponto de vista da violência isso contribui para diminuir o volume de crimes”.
O palestrante ainda registrou a importância do Estatuto do Desarmamento para a redução dos índices. “O aumento de mortes por armas de fogo vinha crescendo e, se não fosse o Estatuto do Desarmamento, a taxa de homicídios seria 12% maior”, disse, pontuando que o Brasil responde por cerca de 15% do quantitativo de homicídios no mundo. “É uma barbárie! 120 municípios concentram a metade dos homicídios do Brasil.
Capitão Samuel
Também participando do debate, o deputado estadual Capitão Samuel (PSC) registrou que tinha 28 anos de Polícia Militar, destacou alguns dados apresentados pelo expositor e defendeu que é preciso sim repensar a Segurança Pública. “Acho que esta discussão começa dentro de casa. A violência tem que ser combatida e trabalhada pelo pai e pela mãe junto aos seus filhos. Caso contrário, no futuro, nós vamos continuar enxugando gelo!”.
Em seguida, o deputado reconheceu o Estatuto do Desarmamento como uma “grande iniciativa”, mas pontuou que ele foi aplicado no Brasil de uma forma ineficiente. “Depois dele nós registramos uma disparada no número de homicídios. Quando vejo vocês falando de política de ódio, acho que existe muitos discursos e ações de endurecimento, agora o que levou o Brasil a reduzir esse número de homicídios em 22% em 2019? E Sergipe que reduziu 11%? O que aconteceu nesse período? Por que os investimentos em prevenção aqui no Estado continuam ínfimos!”.
Por fim, Capitão Samuel disse que Sergipe tem por ano R$ 86 milhões do Fundo de Combate à Pobreza. “Mas a pobreza só aumenta! Não entendi porque esse Fundo foi criado! A pobreza vem associada da falta de emprego e do aumento de violência. E boa parte dos homicídios são praticados por armas ilegais. Será que não seria melhor a gente saber quem tem o porte da arma? Isso não ajudaria as autoridades na identificação?”, questionou.
“O que a gente vê são os bandidos cada vez mais armados e a população acuada dentro de casa, sem ter o direito de ir e vir. No caso do proprietários rurais que terão acesso às armas, quem são as vítimas? Quem está sendo vitimado, afinal? Sobre a juventude quero apenas dizer que muitos são influenciados pela falta de oportunidades e pelas drogas. Isso se banalizou! O País conseguiu controlar o consumo do tabaco, muitos têm vergonha de carregar uma carteira de cigarro, mas cheiram pó e fumam maconha abertamente em um show com 25 mil pessoas”, completou Capitão Samuel.
Fotos: Jadílson Simões