Atendendo a um requerimento do deputado estadual Garibalde Mendonça (MDB), a Assembleia Legislativa concede, no final da manhã dessa quinta-feira (20), o Título de Cidadã Sergipana para conselheira tutelar Silvania Santos de Sousa, também conhecida por “Silvania da Mãozinha”. A solenidade foi prestigiada por amigos e familiares da homenageada e foi marcada pela emoção, quando em seu discurso, Silvania recordou momentos de dificuldade de sua infância.
Ao justificar a homenagem, o deputado estadual Garibalde Mendonça valorizou a iniciativa da Assembleia de reconhecer e promover as minorias. “Seu registro de nascimento em 1989, na cidade de Salvador (BA), lá constava o nome de Jaílton Santos de Sousa, o que fez por muitos anos nossa homenageada enfrentar preconceito de toda ordem”, comentou.
Em seguida, Garibalde revelou que outro aspecto conturbou ainda mais a convivência no meio de sua comunidade estudantil. “Silvania é portadora de deficiência na mão esquerda, o que lhe fez ser chamada de Mãozinha, apelido que lhe incomodava na adolescência, pela forma agressiva com que os garotos da época a tratavam”, disse, enfatizando que o apelido acabou dando notabilidade para a homenageada, que venceu o preconceito impondo sua liderança.
Por fim, Garibalde destacou outro mérito de Silvânia: foi eleita a primeira conselheira tutelar transexual do Brasil. “Este título está sendo concedido por suas ações como cidadã, sempre voltada para a prestação de serviço às comunidades e a defesa de minorias, que assim como ela, também encontram barreiras para garantir seus direitos e encontrar igualdade no convívio com uma sociedade mais compreensiva e tolerante”, completou.
Homenageada
Bastante emocionada, Silvânia da Mãozinha agradeceu muito a Deus e à Assembleia Legislativa, na pessoa do deputado Garibalde Mendonça, “Tenho um carinho enorme e forte apreço, não só pela concessão do título, mas pelo grande homem, honesto e de bom caráter e coração que ele é. Trata-se de um dia histórico onde pela primeira vez recebemos nesta Casa uma mulher negra, transexual, deficiente e da periferia, atuando como protagonista e não como vítima desta sociedade injusta”.
Em seguida, ela fez um reconhecimento público da coragem de sua mãe, Maria Genesia que deixou a Bahia e veio para Sergipe, arriscando a vida, sem emprego e sem escolaridade, com três crianças. “Mesmo com todo sofrimento e necessidade, mesmo ela de estômago vazio, nunca deixou nem eu e nem meus irmãos passarem fome. Nunca dormimos no sereno! Morávamos no barraco feito por ela, na antiga invasão do Anchietão, hoje Loteamento por sua garra, por sua liderança como presidente da Associação”.
“Eu tive uma excelente professora que foi minha mãe, foi dela que herdei este espírito de liderança. Quase ninguém sabe do meu sofrimento, quando carreguei durante anos, vivendo uma pessoas que eu não era, levando um segredo a sete chaves. Hoje estou aqui, uma mulher humilde, admirada e querida pelos amigos, realizada. Não tenho dúvida que aquele menino, Jailton, teria muito orgulho da mulher que me tornei. Sua força e sua resistência e fé me trouxe a vida. O meu obrigado da mais nova sergipana”, completou Silvânia, emocionando seus amigos e familiares presentes.
Quem é Silvânia da Mãozinha
Ela é responsável pela Caminhada da Paz da Zona Norte de Aracaju, da Grande Caminhada Contra a Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes (considerado um dos maiores eventos deste segmento no Estado), do Dance Fest Bugio, além do resgate do Fest LGBT, a maior manifestação a favor dos direitos LGBT da periferia sergipana. É autora dos projetos sociais “Educação Forma – Trabalho Transforma-se”, que combate a evasão escolar; e do Projeto “Da Quebrada para o Mundo”, estimulando a inclusão social, educacional e cultural de crianças, adolescentes e jovens em situação de vulnerabilidade.
Por Habacuque Villacorte – Rede Alese