Atendendo a um requerimento da deputada estadual Maria Mendonça (PP), a Assembleia Legislativa promoveu, durante o grande expediente da sessão dessa quinta-feira (10), um amplo debate sobre os dados apontados pelo Anuário Socioeconômico de Sergipe 2017. Participaram do debate os professores Luiz Rogério de Camargo e Wagner Nóbrega, do Departamento de Economia da Universidade Federal de Sergipe (UFS), bem como pelo economista Luís Moura, do Departamento Intersindical de Estudos Socioeconômicos (Dieese).
Primeiro a expor, o professor Luiz Rogério de Camargo deixou logo bem claro que seu objetivo era de fazer uma leitura do anuário sob uma perspectivas dos autores e que não significava uma leitura única, abrindo espaço para o debate. “É fundamental fazer uma leitura urgente do que está acontecendo em Sergipe e mudar a forma de pensar o Estado. Nós precisamos começar a fazer projeções. Em Sergipe, a taxa de desemprego desde 2012 a 2016 sempre foi superior a média brasileira. No final do ano passado demos um grande salto para 15% e no primeiro trimestre de 2017 chegamos a 16%”.
Outro ponto abordado pelo professor se deve aos setores que mais contingenciaram: agropecuária e a indústria da construção civil. “Olhando as principais atividades econômicas de Sergipe, de 2002 a 2014, vejo que a atividade agropecuária permaneceu constante, houve uma queda nos setor industrial que é uma tendência, a indústria extrativa aumentou, assim como a construção civil. Mas me preocupa demais a indústria e extração (indústria de petróleo) que no Brasil cresceu 40% e em Sergipe caiu 15%”, apontou.
Em seguida, o professor colocou que sua preocupação aumenta porque a produção de petróleo sempre foi um “fio condutor” do desenvolvimento e sempre teve muita relevância. “Mas em Sergipe não contribuiu muito. Não temos uma refinaria, houve também uma queda bruta no preço do petróleo, além da situação da Petrobras. Além disso, a indústria de transformação teve uma participação muito pequena em Sergipe, e aqui temos a tradição de atuar com produtos industriais mais básicos e de pouco conteúdo tecnológico. Precisamos avançar mais nesta área”.
Por fim, Luiz Rogério pontuou que a partir de diretrizes energéticas se decidiu pela redução da ´produção de energia em Canindé do São Francisco. “Em Xingó hoje se gera a metade da capacidade da usina e a outra metade se tem que comprar. O Estado precisa estudar medidas para reverter isso. Todos estes setores englobam 30% do PIB. 70% da nossa atividade econômica está no setor de serviços”.
Wagner Nóbrega
Em seguida, a segunda exposição foi feita pelo professor Wagner Nóbrega da UFS, que tratou de despesas públicas. “As despesas públicas seguem um paralelo com as despesas com pessoal. Há uma mudança de sentido no crescimento da receita tributária que se mostra um pouco mais contínua do que o FPE (Fundo de Participação dos Estados). Estamos margeando o limite prudencial e, neste momento, estamos acima e impossibilitados de algumas ações por conta da Lei de Responsabilidade Fiscal”.
Sobre a capacidade de endividamento, o professor explicou que Sergipe atravessa um momento bastante positivo. “O grau de endividamento é bom e hoje estamos na 4ª posição no conceito do tesouro nacional. Mas chama atenção o fato de Sergipe não conseguir, entre os Estados do Nordeste, contabilizar a possibilidade de perda de crédito a longo prazo e a arrecadação de tributos do Estado não tem se mostrado compensatória para a saída da estagnação das receitas”.
Luís Moura
Por sua vez, o economista Luís Moura defendeu a importância do Anuário porque se olha para o passado e se projeta o futuro. Ele também defendeu a necessidade de se trabalhar com estimativas. “O PIB de Sergipe na economia brasileira é praticamente o mesmo há vários anos. A economia sergipana é muito dependente da nacional. Dentre os principais fatores estão os investimentos públicos. Somos dependentes do serviço público e o poder público estadual teve diminuição do emprego. Tivemos aposentadorias e morte de servidores e não houve recomposição por concurso público”, pontuou.
Em seguida, o economista alertou para uma preocupação no Estado porque o serviço público ainda é o principal empregador e execução das funções depende diretamente dos servidores. “Analisando com mais cuidado os números do Anuário, a gente sabe que a queda das matrículas no ensino médio representa um dilema hoje em dia. Se cai a matrícula, cai o dinheiro a disposição da SEED. É grave porque o sujeito não tem estudo e nem emprego. E os governos devem uma justificativa à sociedade”.
“A falta de mão de obra qualificada impacta na atração de investimentos para Sergipe. Se os anos de estudo não são garantias de êxito no emprego, mas eles garantem um melhor nível de rendimento. Os deputados devem ficar atentos e articular uma campanha para fortalecer o retorno desses jovens nas escolas, das matrículas.
Da Agência de Notícias Alese
Foto: Jadílson Simões