12/8/2022
Por Wênia Bandeira/Agência de Notícias Alese
A Assembleia Legislativa de Sergipe realizou, nesta sexta-feira, 12, a Audiência Pública em comemoração aos 35 anos da Pastoral Carcerária de Sergipe. O evento contou com a presença de integrantes da pastoral, além de representantes da defensoria pública.
O coordenador da pastoral no estado, Carlos Antônio de Magalhães, conhecido como Magal, falou que desde o início dos trabalhos, o objetivo é garantir com os serviços oferecidos cheguem a todos os detentos que precisem. Foi em Areia Branca que a primeira visita a um presídio aconteceu há 35 anos.
“Hoje estamos em todo o estado, tem alguns presídios que infelizmente ainda tem deficiência de equipe ou não tem equipe, então a gente espera poder fazer com que amplie. Esta audiência pública é importante porque a Assembleia Legislativa é uma caixa de ressonância, então esperamos sensibilizar mais pessoas para ter mais equipes em todos os locais”, afirmou.
O articulador da Pastoral na Regional Nordeste, Padre João Bosco do Nascimento, disse que o apoio não é apenas religioso, mas também como companheirismo para esta parcela da população que precisa de auxílio em diferentes formas.
“Nós não compreendemos assistência religiosa do ponto de vista meramente espiritual, a pastoral olha a pessoa como um todo. É a presença, o acompanhamento, a solidariedade, a atenção às pessoas. Nós não podemos trabalhar as pessoas a partir dos erros, mesmo considerando a realidade de pecado que está presente em todos nós, mas temos que ter presente as pessoas e a perspectiva na esperança de mudança na vida de todo ser humano, seja ele preso ou não”, declarou.
O defensor público, Daniel Nunes Menezes, explicou que a participação da Igreja dentro dos presídios colabora com o processo de ressocialização. Com este apoio, o presidiário pode acreditar que terá um futuro melhor.
“A gente não tem como, diante da falta de dignidade do cumprimento de pena, sem locais apropriados, sem alimentação adequada, conseguir fazer o preso acreditar que é um ser humano. A gente tem que olhar aquele preso como um ser humano que pecou, assim como qualquer um de nós peca, e tentar trazer ele de volta para o meio social”, falou.
Além disso, o detento consegue contar como está a sua qualidade de vida dentro do presídio enquanto conversa com os integrantes da pastoral. “Muitas vezes o preso não tem coragem de dizer o que esteja acontecendo de errado nem para o advogado ou defensor público que o está atendendo, mas ele diz para aquela pessoa que foi levar uma Palavra e diz de forma natural”, detalhou o defensor público.
O deputado Iran Barbosa (Psol) acrescentou que a pastoral cumpre a tarefa também de ser uma ouvidoria e defensoria dos direitos humanos, denunciando más condições internas nos presídios. Ele salientou que não é possível acreditar em melhoria da pessoa se ela for mantida em local inapropriado.
“Nós acreditamos que as pessoas que devem à sociedade precisam pagar depois de um julgamento justo, da Legislação ser observada, mas tem que pagar dentro das condições que preserve a condição de humanidade. Além disso, o caráter da pena no Brasil é de ressocialização, se você abandona, você não vai ressocializar”, afirmou.
O parlamentar ainda lembrou que estamos em um país sem investimentos na prevenção dos crimes. Ele disse que a preocupação maior é construir novos presídios, pensando apenas na consequência da falta de investimento.
“É importante ter esse movimento da Pastoral no Brasil em virtude do perfil que o Brasil tem, é um dos países que mais encarcera pessoas no mundo. O Brasil é um dos países que em lugar de investir em políticas que ajudem a minimizar e mitigar os efeitos da miséria, da pobreza e da violência, termina preferindo construir presídios e apostar no aprisionamento de pessoas”, declarou.
A audiência pública ocorreu no plenário da Alese e foi aberta ao público em geral. A Pastoral Carcerária completa, este ano, 50 anos de fundação no Brasil e recebe apoio da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).
Fotos: Joel Luiz/Agência de Notícias Alese