Muita coisa sobre a mulher negra não mudou em tempos atuais. É o que analisa o fundador do Movimento Negro em Sergipe, Severo D’acelino, ao afirmar que a mulher negra ainda é refém da amarga história vivida na senzala: uma história restrita, resumida a procriar, cuidar de seus filhos, marido, e trabalhar para apenas servir, sem perspectiva de crescimento pessoal.
Homenageado na manhã de hoje pela Casa Legislativa, Severo concedeu entrevistas, momento em que falou com veemência e propriedade sobre a nulidade da existência da mulher, em especial a Negra. Onde, segundo imprime o defensor do movimento negro, a discriminação à mulher negra vem sendo nutrida há séculos. “A mulher negra para chegar a um lugar de destaque é com muita luta, pois poucas permissões que lhes são concedidas”, afirmou Severo.
Sem pensar em montar palavras, de forma desprendida e simples, porém, recheada de revelações marcantes, soltou a sua voz como se visse naquele instante algumas imagens a sua frente. Severo transcende e conta detalhadamente sobre a condição de vida da mulher negra em dias atuais:
“Ser mulher é uma luta terrível, pois ela luta três vezes. Primeiro, por ser negra, segundo por ser mulher, e terceiro, por está dentro do processo de submissão da sociedade machista. Vivemos uma sociedade machista onde a mulher não tem vez, onde se nega Direitos e participação. Quando ela está no espaço de Poder, o negro e o homem (esposo) não aceitam serem comandados pela mulher. O Negro não quer ser comandado pela Mulher Negra, e isso dentro da própria comunidade, é na própria comunidade que ela é sempre colocada de lado”, salienta Severo.
Continua Severo a contar sobre a vivência da mulher negra na sociedade, no Brasil, e em Sergipe. “O homem usa a mulher negra, a enche de filhos, e há diversas mulheres para um só homem. É isso que tem na nossa tradição, o homem negro vai reproduzir o que se tem de pior na Casa Grande. A mulher é vilipendiada e desqualificada, dia a dia. A começar pela identidade doméstica, a liderança só é alcançada no matriarcalismo, na terceira idade. Já a criança e idoso tem valor. O ancião, pela ancestralidade, e a criança por estar sendo preparada para continuidade histórica”, explica o processo dado em comunidade.
Entende Severo que todo essa situação de desvaloração da mulher vem da Casa Grande. “A mulher foi vista apenas para procriar. Aqui em Sergipe mesmo, em Tomar do Gerú, havia um curral de escravo, dos padres Carmelitas, que a mulher tinha que parir duas vezes por ano para que seus filhos fossem vendidos na Bahia”, relembra ele o fato histórico.
A mulher não se destaca até hoje, conta ele. “Tivemos aqui, no Estado, mulheres abolicionistas, mulheres negras que se destacaram no processo Cultural e Educacional, mas elas não são assinaladas. Tem o caso de Zizinha Guimarães em Laranjeiras, mas foi feito por questão de revitalização de uma autoridade branca”, assim compreende Severo, e continua a contextualização: “Albano Franco, teve mãe de leite, foi amamentado por uma negra. E essas mulheres negras, chamadas de Bás, não foram valorizadas. São, de forma emocional, e não política”, compreende ele o mínimo valor social dado às mulheres negras.
E arremata contando que não houve desconstrução desses tempos até hoje, entende ele e finaliza: “ Se a mulher engravida, tem apenas seis meses para cuidar de seus filhos, dada pela Legislação. Tem a questão de assédios à mulher, e tantos outros casos, a exemplo da presidente Dilma, que entendo o impeachment, por uma questão de ela ter sido uma mulher. A mulher para exercer algum tipo de Poder, só debaixo de muitas lutas”, externa convicto, Severo D’acelino.
Por, Agência de Notícias Alese
Fotos: Jadilson Simões