Por Stephanie Macêdo
Estima-se que, no Brasil, exista um contingente de 1,5 milhão de crianças e adolescentes de 4 a 17 anos fora da escola. Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 2019, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Esse número corresponde a 3,7% das meninas e dos meninos dessa faixa etária que deveriam estar estudando.
O deputado Adailton Martins, que é presidente da Comissão de Educação, Cultura e Desporto da Assembleia Legislativa de Sergipe (Alese) concedeu entrevista para a Agência de Notícias (AN Alese) e destacou que todos os dias, em qualquer momento, a sociedade e o poder público devem tratar o direito à Educação de crianças e adolescentes como prioridade. Contudo, alerta que essa pauta merece maior atenção em momentos de crises e emergências como este, causado pelo coronavírus.
O parlamentar preocupa-se, e analisa todo o cenário das voltas às aulas da Rede Pública – datada para o dia 22 de março em Sergipe, e já iniciada em grande parte do país desde o início do mês de fevereiro. Segundo ele, apesar do retorno das aulas introduzir protocolos de segurança e higiene, o procedimento ainda é insatisfatório para bloquear o contágio da Covid-19 no espaço escolar. Adailton aponta ainda que o momento de educadores e alunos voltarem para as instituições de ensino deveria estar condicionado a vacinação.
“É muito importante o retorno às aulas, nós sabemos disso, mas estamos num momento atípico. Nós continuamos em pandemia. Conheço professoras e professores que estão com covid, e outros que estão internados. Conheço pais de professores que estão internados por covid e hoje estão internados justamente por terem contraído a doença. Então, entendo que neste momento nós devíamos ter um pouco mais de cuidado. Estamos vendo acontecer lockdown em algumas cidades por as UTI´s dos hospitais estarem lotadas. Então seria mais prudente e mais racional e esperarmos um pouco, aguardando a vacinação ocorrer”, declarou.
Adailton Martins avança da sua avaliação contrária de voltas ás aulas presenciais, ressaltando que à medida que mais e mais pessoas são vacinadas contra Sars CoV 2, novas cerpas do vírus estão surgindo no mundo e até no Brasil. Nesse sentido, o deputado frisa a necessidade da intensificação geral da vacina para toda a população.
“Enquanto não tiver essa vacinação seria mais prudente nos mantermos isolados.Sabemos que a economia precisa andar, mas à custa de mortes? Tá acontecendo muitas mortes, estamos acompanhando aos noticiários. Vemos ainda o que está havendo em Manaus, está chegando outra variedade, outra cepa do coronavírus. Hoje o foco do Brasil era vacinar de toda a população”, defendeu a vacina como princípio para tudo.
Modelos de ensino
Em relação ao formato utilizado pela maioria das escolas que optaram pelo modelo híbrido de ensino, que mescla aulas presenciais e remotas, Adailton Martins compreende que método não atende por algum tipo de contato mais próximo entre alunos e professores, e consequentemente, entre outras pessoas da comunidade escolar.
Durante a pandemia de covid-19, 96% das redes municipais de Educação estavam oferecendo algum tipo de atividade educacional não presencial aos estudantes, segundo dados divulgados em pesquisa realizada pela União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime), em agosto de 2020. O ensino remoto, sem contato em sala entre professor e aluno, é o defendido pelo parlamentar.
“É quebrando a progressão dessa doença que conseguiríamos voltar ao normal, e isso só será possível através da vacinação para todos. Do jeito que está eu acho que é muito precipitado voltarmos às aulas. Acho essa situação muito precipitada, pois conheço familiares de professores que estão entubados e nós não queremos que isso aconteça mais. Nós queremos lutar pela vida. Então é por isso que eu acho que não deveria voltar agora”, expõe seu temor.
Campanha contra a exclusão escolar
Há uma campanha nacional intitulada: Fora da Escola Não Pode. Esse movimento, organizado pela Busca Ativa Escolar em Parceria com a Unicef e a Undime, incentiva o ensino múltiplo, ou seja, mesmo que a escola esteja funcionado em outros formatos.
Há um grande número de crianças e adolescentes que estão em situação de atraso escolar ou foram reprovados, o que aumenta as chances de exclusão e de abandono. Segundo o Censo Escolar 2018, as redes públicas municipais e estaduais do Brasil somam 6,4 milhões de estudantes com dois anos ou mais de atraso e 2,6 milhões de estudantes reprovados(as). O fracasso escolar atinge principalmente as meninas e os meninos que já são privados(as) de outros direitos constitucionais.
Segundo a professora Rute Lisboa Dias Rosendo, coordenadora Estadual do Busca Ativa da Secretaria de Educação de Sergipe, a campanha é uma estratégia de garantir ao direito à educação e avançar cada vez mais no enfrentamento da exclusão escolar, que é uma problemática no Brasil.
“Para isso é necessário a participação e o engajamento ativo da sociedade. Iremos realizar na Casa Legislativa de Sergipe Alese um audiência pública para discutir os planos e estratégias dessa campanha”, adiantou. A perspectiva é que audiência aconteça no mês de março.
Foto: Joel Luiz