Por uma iniciativa da deputada estadual Ana Lula (PT), a Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Sergipe promoveu na tarde dessa terça-feira (4), em seu plenário, a Audiência Pública “Língua Espanhola na Educação Pública”, com o objetivo de promover um debate amplo sobre a implementação da língua espanhola no currículo da educação pública. O evento foi prestigiado por estudantes universitários do curso de espanhol e alunos da rede estadual de ensino.
Participaram do debate o secretário de Estado da Educação, Josué Modesto do Passos Subrinho; a professora doutora e coordenadora do Colegiado de Letras Espanhol do Departamento de Letras Estrangeiras da UFS, Doris Cristina Vicente da Silva Matos; a professora doutora de Espanhol do Departamento de Letras Estrangeiras da UFS, Joyce Palha Colaça; o professor Mestre de Espanhol da SEED, Antônio Carlos Silva Júnior; além do vereador de Aracaju, Iran Barbosa (PT), representando a CMA.
Ao fazer sua exposição, a professora Doris Cristina disse que seria bom que todos os alunos pudessem escolher a língua que decidisse aprender. “Temos no Estado cerca de 142 professores de espanhol e o campo de trabalho como fica? Nós redigimos a minuta de um projeto de lei sobre a garantia de concursos futuros para professores de espanhol e de um mercado de trabalho para os estudantes do presente. Pensamos na língua como uma oportunidade para que a gente possa se relacionar com os outros. A ideia é de encurtar as fronteiras”.
Desde 2005 que foi sancionada uma nova lei tornando obrigatórias as aulas
de espanhol nas escolas públicas e particulares. A professora questionou a reforma do ensino médio de 2017 que estabeleceu o Inglês como disciplina obrigatória, considerando que o governo desconsiderou todos os aspectos históricos e fronteiriços do País. “Cada um que tá aqui deve manter esse nosso movimento de resistência, preservando a identidade sul-americana e latino-americana, resistindo ao modelo que querem nos impor”, disse Doris.
Joyce Palha
Por sua vez, a professora Joyce Palha Colaça entende que a língua é uma questão de política. “A questão da língua é uma questão do Estado, onde as decisões são tomadas. Políticas de língua ficaram nas academias e isso deveria ser discutido com toda a comunidade escolar e social, de uma forma plural, com todos os atores sociais, e quando há uma exclusão de qualquer direito, prevalece o autoritarismo. Existem questões econômicas e fatores sociais que determinam a discussão sobre as línguas”.
Em seguida, a professora pontuou que muitas vezes esquecem que as pessoas são “seres sociais” e que vão muito além dos números do IBGE. “Vivemos em uma globalização falseada. Que globalização é essa que limita os estudos para uma única língua? Voltemos ao Império! É um regresso histórico! Temos um processo de migração dos estudantes brasileiros para os países vizinhos. Que internacionalização é essa do ensino?”, questionou Joyce.
Antônio Carlos
Já o professor Antônio Carlos demonstrou a preocupação para quem atua na rede pública de ensino. “Sete anos da sanção da lei que houve uma efetivação da disciplina em Sergipe. Há uma necessidade e nem todas as escolas de Sergipe tem professores de espanhol. Alguns colegas estão em três escolas aqui em Aracaju e outros atuando em três cidades diferentes. Eu gostaria de estar lutando por mais vagas e mais horas, mas estamos juntos lutando agora pela permanência do espanhol na Rede”.
Em seguida, ele explicou que os professores da Rede Estadual têm qualidade e estão buscando ampliar o trabalho, ir além da permanência. “Queremos estar presentes, de uma forma obrigatória. O aluno que não quiser fazer uma aula de espanhol, vai ter que fazer duas aulas de inglês. E como será a aplicabilidade disso? Estamos na escola não apenas para falar de estrutura linguística, mas para ajudar os nossos alunos a serem cidadãos críticos e autônomos”.
Josué Modesto do Passos
O secretário de Educação pontuou que ficou impressionado com o que ele entende por “fracasso da escola brasileira” em ensinar línguas estrangeiras. “A sociedade demanda muito pouco e nem mesmo as escolas mais privilegiadas dão ênfase a isso. Nossa sociedade cobra pouco das escolas”.
“A UFS foi pioneira em instituir o curso de Licenciatura de Espanhol, o que aumentou a possibilidade de termos professores na rede pública. É importante frisar que o marco legal ainda não foi revogado e a reforma do ensino médio não foi regulamentada ainda. Não há nada de concreto! Mas abrir mão de aprender outras línguas é deixar de abrir portas para outras culturas. Não podemos nos contentar com apenas uma língua estrangeira”, completou o secretário.
Ana Lúcia
Ficou estabelecido na audiência pública que a deputada Ana Lúcia vai apresentar uma indicação encaminhando a minuta do projeto para a SEED, já elaborada pelos professores para apreciação e, consequentemente, para que o Executivo encaminhe um projeto para a apreciação da Assembleia Legislativa.
Por Habacuque Villacorte – Rede Alese
Fotos: Paulo Júnior