Desde a primeira hora, quando os vaqueiros de Sergipe marcharam sobre a Assembleia Legislativa e sobre a cidade de Aracaju, no começo de outubro, o deputado estadual Luciano Pimentel, PSB, não teve dúvida: foi a favor da regulamentação da vaquejada e da elevação desta atividade à condição de patrimônio cultural e imaterial dos homens do interior.
Esta semana, a Comissão de Educação, Cultura e Esporte do Senado aprovou um parecer de autoria do senador Otto Alencar, da Bahia, que eleva esta atividade exatamente à condição de manifestação cultural nacional e de patrimônio cultural imaterial. Não foi novidade para Luciano Pimentel.
O parecer correto. Acho que o caminho por aí. Espero que o que o Congresso decida, em forma de projetos nessa esfera, o presidente Michel Temer sancione e acalme a inquietação dos homens rurais. Quando defendo a manifestação da atividade da vaquejada, estou me referindo a um aspecto quase sentimental da cultura do povo do Brasil interior. Do Brasil dos grotes, diz o parlamentar.
Não necessário ser um sociólogo ou economista para saber a importância e o peso do boi na formação do Brasil, na sedimentação da nossa colonização. Quando todos aqueles vaqueiros de Sergipe estancaram na porta da Assembleia Legislativa e depois marcharam sobre Atalaia, percebi ainda mais o peso e a importância deles. Uma importância que eu conheço muito da vivência com o homem do interior. Exijo, enfim, respeito e bons tratos ao boi, mas sou a favor da vaquejada, diz Luciano Pimentel. Leia mais nesta entrevista.
– Como que o senhor vê esta discussão no âmbito STF e do Congresso sobre a legalidade ou não da vaquejada no Brasil?
Luciano Pimentel – Eu tenho acompanhado este debate com muito interesse. Diria, até, que com duplo interesse. O primeiro, o que me deixa totalmente à vontade para ser a favor desta tradição, pensando nos seus praticantes. O segundo, o que me coloca em face de uma legalização que garanta cada vez mais o bem-estar dos animais usados na vaquejada.
Mas não são contraditrios um e outro interesse?
LP – Eu não vejo contradição nas duas defesas. Quando defendo a tradição da vaquejada, estou me referindo a um aspecto quase sentimental da cultura do povo do Brasil interior. Do Brasil dos grotes. Não necessário ser um sociólogo ou economista para saber a importância e o peso do boi na formação do Brasil, na sedimentação da nossa colonização e da nossa cultura. Isso começa com as chamadas atividades de apartaçes, quando se buscava o boi num extenso territrio sem cercas. Assim, pela mão do homem e pelo casco com boi, colonizamos o país, sobretudo a região que fica para alm do litoral, uma vez que na litorânea a cana de açúcar prevaleceu. A relação de trabalho entre homem e animal evoluiu para uma de entretenimento entre o vaqueiro e o boi. Isso algo bem cravado na nossa paisagem cultural. Quando defendo a manutenção da vaquejada, estou me referindo a isso. Mas claro que todos queremos, neste contexto, o bem-estar dos animais. E isso possível.
Como que possível isso?
LP – Impondo limites de exposição do animal ao estresse da derrubada. Como? Não permitindo que ele seja utilizado diversas vezes numa mesma festa e encontrando outras soluções. Hoje, sabe-se que há até a proteção para o rabo dos animais, por onde ele puxado para a queda. E que se exige uma cama de areia, um piso, específico, para se evitar machucaçes.
O senhor vê alguma semelhança entre a vaquejada nordestina e a Farra do Boi, do Sul do Brasil, e as touradas de Espanha?
LP – Cada povo tem suas tradições, e eu respeito a de todos. Mas a nossa vaquejada não guarda nenhuma semelhança com estas duas atividades referidas. Para começo de conversa, na Farra do Boi o animal era maltratado propositadamente com chutes, paus, pedras e terminavam por levá-lo ao sacrifício. Algo, de fato, abusivo e por isso foi, definitivamente, proibida. Na Espanha, em boa parte das brincadeiras, exceto aquelas de ruas, os animais terminam sacrificados. Na vaquejada nordestina, e at no rodeio praticado mais no Sudeste, nada disso acontece. Os animais são tratados como quase atletas.
O que o senhor acha que virá do âmbito do Congresso em relação às vaquejadas brasileiras?
LP – A minha esperança, e a de milhares de vaqueiros, praticantes, observadores e estudiosos desta atividade, a de que haja bom-senso e que se regulamente a atividade, mesmo que tenha de impor regras mais duras, mais rígidas. No começo desta semana, a Comissão de Educação, Cultura e Esporte do Senado aprovou parecer de autoria do senador Otto Alencar, da Bahia, que eleva esta atividade à condição de manifestação cultural nacional e de patrimônio cultural imaterial. O parecer correto. Acho que o caminho por aí. Espero que o que o Congresso decida, em forma de projetos, o presidente Michel Temer sancione e acalme a inquietação dos homens rurais.
Como o senhor viu a reação dos vaqueiros sergipanos agora em outubro, marchando sobre a cidade de Aracaju, e a Alese, e sobre Brasília, e o Congresso, pedindo regulamentação?
LP Vi com extrema naturalidade, e dei o meu apoio. Dei e darei. Peço aos defensores dos animais que não imaginem que eu esteja destoando muito dos seus pontos de vista. Eu também defendo um tratamento saudável aos animais envolvidos nesta atividade. Defendo práticas saudáveis envolvendo-os. Mas jamais seria insensível ao ponto de desconhecer o significado da vaquejada para os homens do interior do meu Estado, dos demais do Nordeste e de outras regiões do Brasil. No caso dos praticantes sergipanos, eu os conheço. Tenho muitos amigos vaqueiros e que se dedicam às vaquejadas pelos municípios e povoados. Sei da prática e das intenções deles. São as melhores possíveis.
E do ponto de vista da economia, esta atividade tem algum significado?
LP Pois , trago, aqui, também, esse outro aspecto bastante relevante. Há estimativa da Associação Brasileira de Vaquejadas (ABVAQ), de que essa atividade mobilize no Brasil, por ano, algo perto de R$ 600 milhes. Ela conta com três milhões de adeptos, com mais de 4 mil provas anuais e tem crescimento de 20% ao ano. Em alguns aspectos, esta atividade mais popular que o futebol para o homem do interior. Podemos, então, desconhecer o peso disso, por acaso? Quando todos aqueles vaqueiros de Sergipe estacaram na porta da Assembleia Legislativa e depois marcharam sobre a Atalaia, eu percebi ainda mais o peso e a importância deles. Uma importância que eu conheço muito da vivência com o homem do interior. Exijo, enfim, respeito e bons tratos ao boi, mas sou a favor da vaquejada.
Por Ascom Parlamentar