26/07/2022
Por Stephanie Macêdo / Agência de Notícias Alese
Em vários países há tradutores e intérpretes de língua de sinais, também conhecida como língua gestual. A história da constituição desses profissionais se deu a partir de atividades voluntárias, que foram sendo valorizadas enquanto atividade laboral na medida em que os surdos foram conquistando o seu exercício de cidadania. Em Sergipe, neste ano de 2022, os deputados estaduais aprovaram, por unanimidade, o Projeto de Lei Ordinária de nº 161, que institui no estado o Dia Estadual do Tradutor e Intérprete de Libras, a ser comemorado, anualmente, no dia 26 de julho.
Uma curiosidade sobre a data oficial de comemoração ao dia do Tradutor Intérprete de Língua de Sinais (TILS) no país é esclarecida pela Federação Brasileira das Associações dos Profissionais Tradutores e Intérpretes e Guia-Intérpretes de Língua de Sinais, a Febrapils. A instituição explica que a data alusiva ao dia do tradutor intérprete de língua de sinais (dia 26 de julho) se deu em decorrência de um Projeto de Lei do ano de 2012 no Estado de Santa Catarina. A partir desse cenário, a Febrapils reconheceu a homenagem. A data passou a ser difundida em grande parte do território nacional. Mundialmente, a data comemorada em homenagem ao tradutor intérprete é o dia 30 de setembro, dia de São Jerônimo, grande intelectual que fez a tradução da Bíblia da língua hebraica e grega para o latim.
Diferenças
É muito comum as pessoas acreditarem que traduzir e interpretar são a mesma coisa, mas existe uma grande diferença nessas ações. O tradutor é responsável pela tradução de uma língua escrita. Tradutores de Libras convertem, por exemplo, conteúdos de livros e documentos do português para a Língua Brasileira de Sinais. Já o intérprete está envolvido nas línguas sinalizadas ou faladas, ou seja, nas modalidades visual-espacial ou oral-auditiva. Enquanto alguém está fazendo uma palestra em língua portuguesa, por exemplo, os intérpretes de Libras traduzem em tempo real o que está sendo apresentado. Do mesmo modo, ele pode interpretar para a língua portuguesa o que um surdo está sinalizando, possibilitando que um ouvinte que não conhece Libras entenda o que está sendo falado.
Direito linguístico
A participação de surdos nas discussões sociais representou e representa a chave para a profissionalização dos tradutores e intérpretes de língua de sinais. Outro elemento fundamental neste processo é o reconhecimento da língua de sinais em cada país. À medida em que a língua de sinais
do país passou a ser reconhecida enquanto língua de fato, os surdos passaram a ter garantias de acesso a ela enquanto direito lingüístico.
Com isso, as instituições se viram obrigadas a garantir acessibilidade através do profissional intérprete de língua de sinais.
Atualmente há leis em vigor que regulamentam a profissão e determinam a formação desse profissional, como a da Lei 10.436/2002 que reconhece a Língua Brasileira de Sinais (Libras) como meio legal de comunicação e expressão no país. Em abril a Lei Federal completou 20 anos. Com isso, para marcar a data, foi criado o Dia Nacional da Língua Brasileira de Sinais (Libras), visando comemorar essa forma de comunicação utilizada pela comunidade surda, que constitui também importante ferramenta para a inclusão social.O dia 24 de abril marca a data em que a Libras foi oficialmente reconhecida e regulamentada por lei.
Oito anos após, em 2020, foi sancionada a Lei 12.319/2010 que regulamenta a profissão de tradutor e intérprete de Língua Brasileira de Sinais (Libras). Para exercer a atividade, o profissional precisa ter nível médio e certificado de curso profissionalizante, de extensão universitária ou de formação continuada promovido por instituição de ensino superior ou outra entidade credenciada.
Difusão nacional
A Língua Brasileira de Sinais é uma importante ferramenta de inclusão social e é a forma de comunicação e expressão de natureza visual-motora, utilizada pela comunidade surda. No Senado Federal há várias iniciativas de popularizar a linguagem, projetos propõem a inclusão da Libras na grade curricular da educação básica.
As pessoas surdas ou com deficiência auditiva significativa ou às pessoas com deficiências de comunicação, como mutismo e mudez, têm nas Libras uma ferramenta importantíssima para participar da sociedade, mas dependem da difusão desse conhecimento para que a sua comunicação seja eficaz.
O profissional
Em entrevista concedida à Agência de Notícias da Assembleia Legislativa de Sergipe (ANA/Alese), Rozilda Ramos dos Santos Oliveira, que trabalha prestando serviço como intérprete na TV Alese, revelou que o seu objetivo inicial como TILS era de, apenas, ampliar sua comunicação com as pessoas surdas.
“O meu objetivo, à época, era só de aprender a me comunicar com as pessoas surdas. A partir daí, comecei a receber vários convites para interpretar, e sem perceber, fui cada dia mais me envolvendo com a interpretação da Língua Brasileira de Sinais“, externou a intérprete, que comemora 22 anos no exercício da profissão.
O tradutor intérprete de língua de sinais (TILS) ganha protagonismo no cenário das políticas educacionais como o profissional, por excelência, que oportunizaria garantir acessibilidade linguística aos surdos em seu processo de educação inclusiva. Muito comum vermos a participação desses profissionais em propagandas eleitorais e comunicados federais, mas eles estão mais presentes na vida dos surdos do que se imagina. A atuação dos intérpretes de Libras é necessária em escolas, eventos culturais, em consultas médicas, entre outras realidades.
Rozilda Ramos declara que vê a sua profissão, dentro da televisão como trabalha, como indispensável para a população surda e ainda, como ferramenta de inclusão e democracia.
“A acessibilidade na TV também é uma forma de educação, pois na interpretação de Libras que os surdos têm acesso as informações para exercer a cidadania”, enfatizou.
Com 16 anos na carreira de intérprete de Libras, Genivaldo Oliveira, parceiro de trabalho da Rozilda na Tv Alese, conta que aprendeu a Língua Brasileira de Sinais (Libras) para se comunicar com os surdos. “Eu estava trabalhando no supermercado que tinha funcionários surdos, e senti a necessidade de me comunicar com eles. Essa ocasião fez com que eu começasse a interpretar. Ao aprender a Libras, os surdos me chamavam para fazer a interpretação”, contou, destacando que, à época, não existia uma graduação em Letras Libras.
Ele pontua a necessidade de apoio material e físico ao profissional, como resultado de um excelente trabalho. “É através deste profissional que os surdos terão acesso ao conhecimento necessário para exercer seu papel na sociedade”, defende.
Vice-versa
Na interpretação de Libras, um profissional realiza uma tradução simultânea ou consecutiva do que está sendo falado. Do mesmo modo, esse profissional também pode interpretar para a língua portuguesa aquilo que um surdo está dizendo em sinais.
Além desse profundo conhecimento da estrutura utilizada em Libras,o profissional tem a capacidade de atuar em diferentes contextos, como o cultural, aspectos sociais e até mesmo emocionais.
Foto Central: Site Senado