Nesta quinta-feira (28), o auditório da Escola do Legislativo (Elese) recebeu a edição de agosto do projeto ‘Quintas Negras – Xirê dos Saberes’. No momento foi discutido a temática da branquitude nas artes, com foco na obra do pintor sergipano Florival Santos.
A ação contou com a participação de estudantes e professores do Colégio Djenal Queiroz e teve como objetivo estimular o debate sobre as influências históricas e culturais nas produções artísticas da região. A palestra foi ministrada por alunos assistidos pelos programas de iniciação científica ‘Pibic Júnior’ e do ‘Sergipe no Mundo’, de intercâmbio cultural.
Florival Santos: Um Artista Autodidata
Florival Santos nasceu em Propriá, Sergipe, em 1907, e, aos 20 anos, mudou-se para Aracaju. Autodidata, aprendeu a pintar observando a paisagem e os aspectos sociais, políticos e culturais de sua época. Ao longo de sua trajetória artística, também passou pelo Rio de Janeiro, onde tentou alistar-se, mas acabou seguindo sua carreira como pintor.
“A obra de Florival, que começou a se destacar nas décadas de 1920 e 1930, reflete o contexto de uma sociedade marcada por preconceitos, muitos dos quais ainda persistem. Em sua produção, Florival Santos embranquecia os personagens de suas obras, isso representava uma tentativa de inserção em um ambiente dominado pela estética eurocêntrica e racista”, ressaltou o coordenador de assuntos pedagógicos da Alese, Benetti Nascimento.
A Branquitude na Arte de Florival Santos
O conceito de branquitude foi analisado. Ele fazia parte de um movimento que buscava “embranquecer” a população brasileira, especialmente após a abolição da escravatura em 1888.
De acordo professor de artes e doutorando em História, André Luiz Valença, embora não tenha sido uma política formalizada, a ideia de miscigenar a população e promover uma cultura branca, de ascendência europeia, era amplamente disseminada na sociedade brasileira da época.“A reflexão sobre a branquitude na arte de Florival Santos é especialmente relevante ao se observar obras como ‘Xangoseiras e Amas de Leite’. A primeira é uma pintura que retrata uma visão estereotipada de uma mulher negra, com traços racistas, representando uma manifestação cultural africana sob a ótica de um homem branco. Já ‘Amas de Leite’, datada de 1968, apresenta uma mulher negra amamentando uma criança branca, um símbolo de subordinação e da construção histórica das relações interraciais no Brasil”, explicou.
O Olhar dos Estudantes
A importância do projeto também se reflete na participação ativa dos estudantes do ensino médio do Colégio Estadual Djenal Queiroz, que, sob a orientação do professor André Luiz Santos Valença, pesquisaram e apresentaram as implicações da branquitude nas obras de Florival Santos.
Para a estudante Samara Dantas, do terceiro ano do ensino médio, discutir a branquitude nas artes é essencial. “Muitas vezes, essas questões passam despercebidas no cotidiano. A obra ‘Xangoseiras’, por exemplo, carrega um termo pejorativo, refletindo a visão de um homem branco sobre a cultura e a população negra. Embora as representações de Florival Santos não tenham sido feitas com a intenção de ofender, elas refletem os preconceitos e as limitações da época em que ele viveu”, explicou Samara.
O estudante João Hélio Oliveira, também do terceiro ano do Colégio Djenal Queiroz, destacou a relevância do tema. “É um assunto discutido desde o nosso processo de colonização do Brasil até os dias de hoje. É um tema ainda sensível na nossa sociedade”, concluiu.
Foto: Joel Luiz/Agência de Notícias Alese



