A constante necessidade de desenvolver ações que proporcionem o livre e irrestrito acesso ao livro e à leitura, possibilitando a participação efetiva da comunidade, faz com que o contato do leitor com o escritor e sua obra seja o caminho para o efetivo desenvolvimento das relações de leitura.

Celson Iris

É seguindo com este intuito, que nesta quinta-feira, 20, a Escola do Legislativo João de Seixas Dória, da Assembleia Legislativa de Sergipe (Alese), realizou mais uma edição do Projeto “Encontro com o Autor Sergipano”, que há três anos, aproxima os nossos escribas do público em geral em busca de uma troca de experiências em torno da literatura regional.

“Muitas vezes as pessoas têm aquela dúvida sobre quem é o autor, como que ele chegou àquela obra, como é que foi o processo de inspiração, o que que o motivou a escrever sobre aquele assunto, então é uma oportunidade que as pessoas têm para tirar essas dúvidas, conversar com o autor e desmistificar aquela ideia de que o autor é alguém distante, inalcançável, inatingível, né? Então é uma oportunidade de estar aqui frente a frente, em uma conversa informal. É um bate-papo que enriquece bastante”, definiu o coordenador da Biblioteca da Elese, Celson Iris.

O autor convidado foi a escritora Maria da Conceição Barreto Alves Souza.

Nascida na cidade de Capela; é graduada em História e pós graduada em História Novas Abordagens pela Faculdade São Luis. É servidora pública da Prefeitura de Aracaju e atuou como gestora na rede pública estadual e particular. Por duas vezes, foi Primeira-dama do município, além de ter exercido, nesses períodos, a função de secretária municipal. É membro fundadora da Academia Capelense de Letras e Artes (ACLA), sendo a sua primeira presidente. É autora dos livros “De Capela a Matriz” (2015) e “Espelhos Biografados (2019). E nesta oportunidade, ela apresentou seu mais novo rebento, intitulado ”60 anos do Golpe Militar: Capela, uma parte da história”.

Maria da Conceição Barreto Alves Souza

“Eu configuro o meu livro, como um livro de História, com dados, informações sobre a política do Estado de Sergipe na época, também um pouco de história do Brasil, até para ter um contexto para que você possa chegar em Capela. Foi difícil, mas no final fiquei muito feliz, porque foi um aprendizado. Mesmo formada em História, eu não tinha nem ideia do que tinha acontecido. Existe muita pesquisa em andamento, desdobramentos sobre determinados fatos do Golpe Militar. Só como exemplo, em Capela tivemos um prefeito deposto pelo Golpe. Então foi assim, me debrucei bastante sobre esse assunto através de pesquisa. Já que sou uma historiadora, era como se eu tivesse essa obrigação em poder contribuir com a história da minha cidade”, explicou a autora.

A autora explicou como foi o processo de pesquisa para a confecção da obra.

“Foi árduo, foi uma caminhada muito difícil, teve um momento que eu quase desisti porque eu não encontrava fundamentos ou matérias relacionadas à cidade. Primeiro foi a pandemia, pois quando eu decidi escrever em 2019, em 2020 veio a pandemia, que interrompeu quase tudo. O distanciamento obrigatório das bibliotecas, do nosso Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe, tudo fechou, e eu tive que dar uma parada obrigatória. Segui pesquisando na internet, livros de História do Brasil e fiz muitos contatos com pessoas que da época, mas de fato, foi bastante difícil. Mas conseguimos, lançamos ao mundo e hoje estamos aqui nesta Casa histórica, compartilhando com estes jovens estudantes, portanto é um momento importantíssimo, eu estou muito feliz, grata e honrada com a oportunidade de participar desse Encontro com o Autor Sergipano”, agradeceu a autora.

O coordenador pedagógico da Elese, Carlos Vinícius, destacou a temática do encontro com foco na história local.

Carlos Vinícius

“Hoje temos uma convidada de um conhecimento vasto da região de Sergipe, que está trazendo a temática do Golpe Militar, mas com foco especialmente na cidade de Capela, sua cidade. Isso é muito importante para a história de Sergipe, para isso ser repassado para os alunos e convidados presentes. Pois às vezes a gente conhece esse capítulo da história mais a nível Brasil e a oportunidade de conhecer a história a nível Sergipe é sempre muito importante. A gente que é da área de educação sempre pensa que em cada turma podem ter futuros escritores, então que estes jovens possam repassar este conhecimento à frente”, desejou, Carlos Vinícius.

Convidado ilustre do Encontro, o presidente da Academia Sergipana de Letras (ASL), Dr. José Anderson Nascimento, comentou sobre a obra apresentada.

“É um momento importante, não só para a escritora, mas também para o público presente em poder ouvi-la em uma narrativa, do seu livro que faz o registro da época da Ditadura lá no município dela, em Capela, onde o prefeito foi caçado, onde houve assim um movimento de repressão, e que ela, com uma forte narrativa, baseada em grande acervo documental, traz para a Sociedade sergipana esse livro a fim de que sejam observadas as violências aos direitos constitucionais na época. Então, eu parabenizo a Direção da Escola do Legislativo, como também a própria autora que está aqui divulgando a sua obra”, exaltou, José Anderson.

Dr. José Anderson Nascimento

Para essa edição foram convidados os alunos do 3º ano do Ensino Médio do Centro de Excelência Prof. José Carlos de Souza. Para a professora de história, Luzinete Santana, é uma oportunidade engradecedora, porque gera também no aluno aquele desejo criativo, talvez, que esteja dentro deste, estimulando esse lado.

“Ainda tem o lado histórico, que é atual. Veja, a autora tratou do Golpe Militar, no recorte de Capela, não é isso? Que também é uma novidade, porque a gente tem poucos estudos com relação a essa temática em Sergipe e em Capela então. Então isso aí faz com que o aluno também amplie seu conhecimento sobre essa temática, porque geralmente a gente trabalha na questão macro, Brasil. E além desse fato, nós estamos vivenciando uma época em que algumas pessoas querem fazer uma narrativa de que o Golpe foi bom, né? Então essa palestra foi bastante importante por isso, porque vai dar aquela visão e mostrar o que realmente foi o episódio”, destacou a professora.

A aluna Giovana Barros corrobora com sua mestra:

Giovana Barros

“Foi algo muito positivo, porque ela aproxima a gente de uma outra visão sobre a história. Ela tira a gente da sala de aula e traz a gente para um outro cenário, para a gente aprender com a pessoa que estudou muito sobre, para tirar dúvidas. Porque mesmo sendo um tema muito tratado, um tema que é atual, as pessoas ainda têm dúvidas. Como, por exemplo, ela esclareceu a questão da Revolução, e a diferença disso para a Ditadura Militar. Geralmente a gente traz de uma outra visão, a gente fala só sobre o Brasil como um todo. Então é muito importante que ela separe isso, fale sobre Capela e sobre essas menores cidades, para a gente entender que a Ditadura afetou o Brasil como um todo”, justificou, Giovana.

O coordenador Celson Iris faz um convite aos estudantes sergipanos e população:

“Eu quero aproveitar o espaço para convidar a todos para virem usar, usufruir da nossa Biblioteca. A gente tem aqui literatura sergipana, história de Sergipe, material do Processo Legislativo, além de livros e outras publicações da própria Assembleia. A nossa sala de leitura é uma sala multiúso que dá para a gente realizar diversos eventos. Então a gente quer que as pessoas venham se apropriar desse espaço. Porque uma biblioteca sem uso, é apenas um depósito de livros. A gente quer dar vida para esse espaço aqui”, convidou.

Serviço

A Biblioteca “Deputado Marcelo Déda, da Escola do Legislativo “Deputado João Seixas Dória” (Elese), fica localizada no Palácio Graccho Cardoso, Praça Fausto Cardoso no Centro Histórico de Aracaju. Funciona de segunda a sexta-feira das 8h às 17h e não fecha para almoço.

Fotos: Joel Luiz/Agência de Notícias Alese