Por Shis Vitória/Agência de Notícias Alese
“Racismo Religioso e resistências do povo de santo e do nosso sagrado”. Este foi o tema que norteou a nova edição do projeto ‘Quintas Negras – Xirê do Saberes’ realizado na manhã desta quinta-feira, 22, no auditório da Escola do Legislativo Deputado João Seixas Dória (Elese). O evento contou com a participação de intelectuais, representantes de religiões de matriz africana, estudantes da Universidade Federal de Sergipe (UFS), alunos do Colégio Estadual Atheneu Sergipense e Colégio Estadual Tobias Barreto no qual, acompanharam os debates e a exibição do curta-metragem “Os caminhos de Xangô- A resistência das religiões afro-brasileiras”.
O Diretor de Comunicação da Alese, Irineu Fontes, esteve presente na ocasião em nome do presidente da Casa Legislativa e destacou a transparência em todas as ações da instituição. “Fazemos parte de uma gestão baseada na transparência e iniciativas como essa fortalecem a conscientização e a igualdade racial. Pautas assim estarão sempre em evidência neste espaço”, afirmou.
O coordenador de Projetos Especiais da Escola do Legislativo, Arivaldo Chagas, celebrou a continuidade do projeto Quintas Negras que tem por objetivo despertar reflexões e conhecimento. “Desde a sua fundação um dos propósitos da Elese é fomentar a educação, cultura e as artes e hoje tivemos mais um exemplo disso por meio do estímulo do saber, reflexões e debates em cima de um tema tão necessário que é o racismo religioso”, disse.
O professor doutor do Departamento de Museologia da Universidade Federal de Sergipe e Babalaxé, Fernando Aguiar, ministrou uma palestra e conduziu os debates a respeito de justiça social e manifestações de matriz africana. “Agradeço pela oportunidade em contribuir com esse projeto fantástico e penso que a partir do momento que as esferas estaduais, municipais e federais trabalham no combate do racismo seja ele qual for nos sentimos efetivamente fortalecidos, pois no Brasil o racismo é estrutural junto com inúmeras situações e dessa forma as instituições, inevitavelmente, replicam práticas pautadas em estereótipos. Pela Constituição de 1988 o Estado é laico porém, as pessoas principalmente as adeptas de religiões de matriz africana são vítimas do racismo religioso por parte de seguidores de outros credos e por isso é tão salutar discutir o racismo e estimular discussões neste formato com a sociedade civil”, explicou.
Em sua fala, a pós- doutoranda em História pela Universidade Federal de Sergipe (UFS), doutora em Antropologia Social (UFSC), professora, antropóloga, preta nagô do Samba de Aboio de Santa Bárbara e Ekédjí no Ilê Axé L’odó Omiró, Yérsia Souza de Assis, ressaltou a socialização e sensibilidade. “Estou muito agradecida em participar do projeto Quintas Negras, através do convite do professor Fernando Aguiar para somar com esta atividade. A importância é colocar dentro da cena pública debates com temas muito caros e porque são caros para sociedade? São temas que falam de discriminação, preconceito e intolerância de algum modo. Se a gente vive em uma sociedade que é intolerante e age com preconceito todos nós perdemos e não só as vítimas, ou seja, toda a sociedade. A partir do momento que discutimos sobre isso conseguimos então educar a população e ofertar novos conhecimentos resultando em sensibilidade e empatia ao diferente. Uma religião diferente ou uma prática de fé diferente não é ruim. O ruim é agir de modo ignorante pela falta de conhecimento”, observa.
A doutora em Antropologia, professora do Programa de Pós- graduação em Antropologia (UFF/RJ), pesquisadora do INCT/InEac, coordenadora do GINGA/UFF e produtora do documentário Caminhos de Xangô, Ana Paula Miranda, enfatiza a importância de popularizar o combate ao racismo religioso com a juventude e instituições públicas. “Agradeço a recepção em Sergipe que é sempre calorosa sendo ainda um prazer muito grande retornar a esse lugar. É a minha estreia no Quintas Negras e ações como essa são mais que necessárias para produzirmos uma política anti-racista. No Brasil, temos um problema bem peculiar que é o racismo sem racistas que trata-se de um processo que sabemos da existência, mas ninguém assume esse lugar que é desagradável então, nossa preocupação é chamar atenção de que não se transforma preconceitos sem educação, sem capacitação e formação”, acrescentou.
Atento nas discussões, o aluno do Colégio Estadual Tobias Barreto, José Douglas Ramos dos Santos, compartilhou sua percepção mediante a temática. “Gostei muito de acompanhar as discussões com um tema tão sério que é o racismo religioso. Somos todos iguais e esse costume de uma cor ou religião é melhor do que outra precisa acabar. O respeito antes de tudo precisa prevalecer”, concluiu.
O doutor em Direito pela (PUC-RIO), diretor da DDH na Secretaria de Municipal de Assistência Social (PMA), Ilzver Matos, e a especialista em Antropologia, graduada/licenciada em Sociologia, coordenadora do Espaço Arte, Cultura e Educação Omiró (Casa de Mar), sócia-fundadora e membro da Sociedade Omolàiyé; membro do conselho da Organização de Mulheres de Axé do Brasil, Yalaxé no Ilé Axé Omin e Iyalorixá no Ilé Axé L’odó Omiró, Martha Sales Costa também fizeram parte da mesa debatedora.
Projeto
O projeto ‘Quintas Negras –Xirê dos Saberes’ da Assembleia Legislativa de Sergipe- por meio da Escola do Legislativo Deputado João Seixas Dória (Elese)-, debate temáticas raciais. A programação cultural acontece mensalmente as quintas-feiras.
“Ele surgiu em 2019, como forma de aproximar a população sergipana da Casa Legislativa. Sempre trazemos como convidados, professores e militantes ligados à temática racial, líderes comunitários, cineastas, artistas, representantes de religiões de matriz africana. O foco é promover a conscientização visando a igualdade racial”, frisou a escritora, assessora de Cultura da Escola do Legislativo e responsável pelo projeto Quintas Negras, Vera Vilar.
Além de palestras, a iniciativa conta com debates e roda de conversas com os participantes na ideia de ampliar a pauta com a diversidade de informações para a população em geral e abordar os temas como promoção da igualdade racial e combate a intolerância racial e religiosa.
Fotos: Jadilson Simões/Agência de Notícias Alese