26/6/2022
A Assembleia Legislativa de Sergipe lamenta, em nome do presidente Luciano Bispo e dos demais parlamentares, a morte do Mestre Deca do Cacumbi de Laranjeiras ocorrida nesta tarde de domingo, 26 de junho. Mestre Deca foi uma figura muito importante no município e para a cultura popular do Estado.
Por conta de problemas de saúde, ele estava afastado das atividades do grupo Folclórico, desde 2008. Aos 86 anos, Mestre Deca, deixa um grande legado na cultura popular do Estado de Sergipe.
Reconhecimento na Alese
A Associação dos Brincantes Cacumbi Mestre Deca, com sede no município de Laranjeiras, foi reconhecida como Utilidade Pública Estadual, através do Projeto de Lei Ordinária N° 283/2021, de autoria dos deputados Luciano Bispo e Zezinho Sobral. Na justificativa, os deputados informam que a finalidade é a promoção de assistência social, da cultura, do desenvolvimento sustentável através da cultura, do voluntariado, da ética, da paz, dos direitos humanos, da democracia, da cidadania, defesa e conservação de patrimônio cultural.
A história de Mestre Deca, do Cacumbi (José Santana dos Santos)
por Geane Aguiar (texto escrito em dezembro de 2011)
José Santana dos Santos, conhecido por todos como Mestre Deca nasceu em 13 de julho de 1936, na Fazenda Boa Luz, Laranjeiras/SE que pertenceu ao Sr. Franquinho. Filho de Cândido Ramos dos Santos e Maria São Pedro dos Santos, ele brincava o Cacumbi desde criança com o grande amigo e parceiro Zé Macário, conduzidos pelo inesquecível Mestre Zé Pita.
Vivo, alegre, educado, atencioso e lúcido, ele reside com sua esposa Marinalva, filhos e netos, na Rua Oscar Ribeiro, 203, conhecida tradicionalmente como Alto do Bomfim, em uma casa rosa estreita de escada, no município de Laranjeiras, cidade tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico desde 1996.
Galanteador e boêmio teve muitos amores, mas acabou casando no civil e na Igreja da Matriz do Sagrado Coração de Jesus, em Laranjeiras/SE, com Marinalva, dona de casa. Das convivências, com a ex-companheira Izabel e a atual esposa dona Marinalva teve 07 (sete) filhos: José Adilson Santana dos Santos, José Carlos dos Santos, Antônio Carlos dos Santos, Maria Auxiliadora dos Santos, Lindinalva Santana dos Santos, Maria Aparecida dos Santos e José Batista dos Santos, o qual foi criado pelo avô Cândido Ramos.
Sua infância foi marcada por estudar somente o primeiro ano, nas escolas de 1° Grau Dona Netéria, na Fazenda Saco e na escolinha da Fazenda Faleiro. Nessas escolas aprendeu a ler e escrever um pouquinho. Adorava, também, tomar banho nos tanques e pescar de anzol: traíra, muçum, piaba, e, sobretudo ouvir as lendas e contos de assombração contados por seu pai. Até hoje, ele relembra com muita saudade da história do Fogo Corredor.
Mais tarde seus pais passaram a morar, na Fazenda Matriana, Laranjeiras/SE. Em seguida compraram uma casinha, no Bacalhau, uma vila, com bandinha de casas.
Quando era criança adorava os deliciosos doces feitos pela sua querida mãe: cocada-puxa e cocada mole. Deliciava-se, também, com simpatia (bolachão) com café. Até os dias atuais, ele não dispensa uma boa moqueca de arraia, de bagre; um bom pirão de mocotó ou de galinha caipira. Confessa seu Deca que: “ depois que como um saboroso pirão de mocotó, me sinto renovado.”
A partir dos quinze anos, começou a tocar pandeiro, nos leilões de Laranjeiras ao lado do companheiro e sanfoneiro Paulo Salvador, mas também ajudava ao pai José Cândido, o qual era carreiro.
Assim, mestre Deca foi puxador de carro de boi, uma das suas primeiras atividades profissionais. Em seguida, trabalhou na Fazenda Ribeira, Socorro/SE como feitor, ou seja, tomava conta dos trabalhadores de enxada, nos canaviais. Algum tempo depois, trabalhou, na Usina Pinheiro, Laranjeiras/SE como auxiliar de almoxarifado.
Em sua juventude gostava muito de rezar nas sentinelas, além de tirar versinhos e tomar umas doses de cachacinha Ipê, produzida no Alambique do Sr. João Franco. Dentre os versinhos recitados, ele guarda na memória, com muito carinho a quadra abaixo:
“Ele está dormindo um sono.
Ele não se acorda mais.
Benção papai, benção mamãe!
Adeus meus irmãos, para nunca mais.”
Depois da história da sentinela, ele nos presenteou, com mais um trecho de suas canções:
“Oi o Cacumbi Aiá…
Aiá vem, vem, vem Aiá!
Vem ver a Sereia cantar no mar.
Aiá, vem ver.”
Mestre Deca encerrou a entrevista cantando para mim o seguinte trecho de uma bela canção:
“Da Bahia me mandaram ê, ê, ê…
Uma flor de manacá.
Mandaram me perguntar
Se eu queria me casar…
E o que importa lá?
Da Bahia me mandaram chamar.” (…)
Durante a sua trajetória de vida dedicada desde menino ao Cacumbi, ele recebeu várias homenagens: troféus, medalhas, baneres, um CD gravado, com canções e louvores do folguedo. Ele agradeceu o apoio recebido dos gestores de Laranjeiras que contribuíram e colaboram com o grupo doando as indumentárias. Foi também fotografado ao lado de muitos políticos.
Referente à iniciativa da Secretaria de Cultura de Laranjeiras, através do Gestor Cultural Irineu Fontes, o qual objetiva publicar um livro infanto juvenil contando toda a história de vida do menino pobre nascido na Fazenda Boa Luz que ao longo do tempo, transformou- se no admirável Mestre Deca, do Cacumbi, ele me respondeu:
“Minha história contada em um livro, para crianças será um grande presente para mim.”
Antes de finalizar a entrevista, ele fez um pedido:
“Eu peço que meus filhos participem direitinho da manifestação folclórica Cacumbi; e levem adiante essa história, para não deixar acabar o folclore. Hoje eu estou aqui, amanhã vou estar debaixo de chão, e a tradição precisa continuar”.
Participaram da entrevista, na casa do Mestre Deca, em Laranjeiras/SE, no dia 10 de dezembro de 2011 Maria Eunice da Hora (professora aposentada da Rede Estadual de Ensino e bacharela em Direito; seu esposo Arão Borges dos Santos, delegado civil do Estado da Bahia).
*Entrevista e Pesquisa realizada, assim como a escrita por Geane Aguiar – escritora, professora e ilustradora sergipana