Por Assessoria Parlamentar
A deputada estadual Linda Brasil reúne, em sua mandata, mulheres fortes que têm Marielle como referência
Ubuntu é uma palavra de origem africana, mais especificamente da língua Zulu e significa “eu sou porque nós somos” e remete ao sentimento de coletividade. A trajetória de Marielle Franco, mulher negra, periférica, vereadora carioca e representante honrosa da sigla LGBTQIAPN+, que levava a filosofia nascida no continente ancestral como prática, foi interrompida em 14 de março de 2018, há exatamente cinco anos, mas as sementes deixadas por ela e espalhadas Brasil afora encontraram terra fértil e frutificaram. Uma delas floresceu em Sergipe, na militância da deputada estadual Linda Brasil, correligionária de Marielle.
“A luta de Marielle germina em nós todos os dias. Ela mobiliza outras mulheres a ocuparem seus espaços de direitos, incomodando os poderes instituídos repletos de privilégios nesta sociedade ainda tão desigual que vivemos. Precisamos seguir o exemplo de Marielle e lutar contra esse sistema capitalista, racista, patriarcal e heterocisnormativo, que opera para impedir, de forma estrutural, a realização de nossas mandatas e mandatos, e para aniquilar nossos direitos políticos”, enfatizou a deputada estadual.
Diante desse movimento fundamentalista patriarcal, Linda ressalta a importância da presença de pessoas com os ideais de Marielle nos espaços de poder. “Quanto mais de nós ocuparem os espaços que sempre nos foram negados, para transformar verdadeiramente a política, a revolução que queremos estará mais próxima. A nossa união fará com que superaremos as barreiras que nos impedem de fazer justiça social. Estaremos todas, todes e todos juntos fazendo revolução e transformando esse sistema machista, racista e fundamentalista”, garantiu.
De acordo com Maria Luísa Andrade, coordenadora do Grupo de Trabalho de Juventude e Cultura da Mandata, Marielle Franco trabalhou fortemente no rompimento de narrativas opressoras, ressignificando a presença de mulheres, pessoas negras e LGBTQIAPN+ em espaços considerados hostis para esses grupos sociais. “Falar de Marielle é uma responsabilidade imensa, porque o legado que ela deixou é de total resistência. Não à toa ela usava a terminologia Ubuntu. Através da sua vida, Marielle hasteou bandeiras de pertencimento ao povo preto. Infelizmente, ela não está mais em presença física conosco, mas a sua ancestralidade é um guia para muitas outras que virão após e a partir dela. Nós permaneceremos nas trincheiras!”, garantiu Maria Luísa.
Efeito Marielle na Política
Em 2016, nas eleições que Marielle se candidatou e venceu a disputa eleitoral ao cargo de vereadora pela cidade do Rio de Janeiro, apenas sete mulheres foram eleitas, das quais duas se autodeclararam negras. Após a sua morte, o “efeito Marielle” ocasionou uma mudança importante no cenário político local. Ainda em 2018, ano de eleições para a escolha de representantes na presidência da república, assembleia legislativa, senado e câmara de deputados houve uma ampliação no número de deputadas estaduais, bem como das representantes do legislativo estadual que se autodeclaram negras.
Agatha Cristie, chefe de gabinete de Linda Brasil e membro da direção estadual do PSOL, relatou momento exato em que recebeu a infeliz notícia do assassinato de Marielle. “Quando soubemos da morte de Marielle, eu e Linda estávamos na minha casa, planejando a campanha de 2018. Recebemos mensagens do nosso grupo de militância do PSOL e quando abrimos foi um choque muito grande. De imediato ligamos a TV, que noticiava o acontecido”.
Grande referência dentro e fora do PSOL, quando começava a falar, Marielle Franco tinha o poder de prender a atenção de todos ao redor. “Em 2018, eu tive a oportunidade de participar de dois eventos em que ela estava presente e era impressionante perceber a força que ela tinha na voz, a imponência. Com toda certeza, a partida tão precoce de Marielle marcou a vida de muitas pessoas, sobretudo a de Linda Brasil, que a tinha como uma grande inspiração”, explicou Agatha.
É na luta por direitos que nos encontramos
Para além da influência tão somente no campo das ideias, a deputada estadual Linda Brasil, que representa o Instituto Marielle Franco em Sergipe, dialoga diretamente com a agenda de defesa dos Direitos Humanos e da Educação, propostas sustentadas por Marielle durante o exercício da mandata. Apenas em março, a deputada estadual protocolou diversos Projetos de Lei (PL) nas áreas correlacionadas. Como marco simbólico, neste 14 de março, um projeto de lei proposto por Linda, quando ainda era vereadora da capital sergipana, será votado na Câmara de Aracaju. Trata-se do PL 119/2021 que denomina a Praça Marielle Franco, a atual Praça do Coqueiral, no bairro Porto Dantas, que ainda não tinha um nome específico.
“Lembro que Marielle dizia muito a frase ‘Não serei interrompida!’ e, mesmo com sua ida tão violenta e precoce ninguém nunca interrompeu o seu legado. Somos porta-vozes e sementes de Marielle. As sementes seguem sendo regadas e precisam da água da justiça para continuar em seu curso de crescimento. Ainda há a dor da interrogação. Quem mandou Matar Marielle?”, declarou Iza Negratcha, assessora da área de Direitos Humanos da mandata.
Cinco anos de saudade
Marielle Franco e o seu motorista, Anderson Pedro Gomes, foram assassinados em 14 de março de 2018, dentro de um carro, na região central da cidade do Rio de Janeiro, enquanto voltavam de um evento no bairro da Lapa. De acordo com as informações da polícia, um outro carro ficou emparelhado com o da vereadora, de onde saíram os disparos. Até o presente momento, mais de 1800 dias após o crime, não foram encontrados os mandantes da execução.
Foto: Divulgação Ascom