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Linda realiza audiência para discutir mudança climática e racismo ambiental

Por Milton Alves Júnior | Agência de Notícias Alese

Tema carece de amplos debates a fim de proporcionar melhor qualidade de vida aos seres humanos

Denominação desconhecida por milhões de brasileiros, a Assembleia Legislativa do Estado de Sergipe (Alese), recebeu na tarde desta terça-feira, 14, ativistas ambientais, acadêmicos universitários, biólogos, assessores parlamentares e sociedade em geral para discutir sobre racismo ambiental. Por mais que esta abordagem apresente um contexto aparentemente novo, a realidade é que se trata de um assunto pouco apreciado no cenário brasileiro, mas que no ano de 1981 o ativista afro-americano de direitos civis, Benjamin Franklin Chavis Junior, já definia o racismo ambiental como um movimento percussor da desigualdade com que as etnias vulnerabilizadas estão sendo expostas, cotidianamente, aos fenômenos ambientais nocivos ao bem-estar humano. Com base em pesquisas de campo, coordenadas por ele em múltiplos países, foi constatado que a população menos favorecida financeiramente costuma ser a primeira impactada por catástrofes ambientais.

Para melhor explanar ao leitor, a Agência de Notícias Alese estudou sobre o assunto e identificou que no final do século XX, Chavis Junior criou a expressão ao observar que parte da população dos Estados Unidos da América – sobretudo de etnia negra –, estava sendo conduzida para viver em localidades degradadas de várias formas. Entre obras literárias e artigos científicos publicados pelo autor, é possível afirmar que o racismo ambiental trata-se de uma: “discriminação racial no direcionamento deliberado de comunidades étnicas e minoritárias para exposição a locais e instalações de resíduos tóxicos e perigosos, juntamente com a exclusão sistemática de minorias na formulação, aplicação e remediação de políticas ambientais”. Vale enaltecer que este cenário percussor foi apurado no início dos anos de 1980.

Em pleno ano de 2023, século XXI do segundo milênio d.c., a realidade no Brasil mostra que 51,9% da população não tem acesso ao saneamento básico. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), reconhece que o país contabiliza mais de 5,1 milhões de domicílios localizados em favelas, comunidades, palafitas, grotas ou vilas, baixadas ou mocambos (aglomerados subnormais). Autora da atividade realizada na Escola do Legislativo Deputado João Seixas Dória (Elese), a deputada Linda Brasil (Psol), destacou que sua atuação parlamentar tem como perspectiva dar voz às lutas fundamentais, capazes de garantir a dignidade da vida humana. De acordo com a deputada, é angustiante constatar que o racismo ambiental está presente na vida de milhares de sergipanos.

“Estamos diante de um tema que precisa ser expandido; muito bom ter vocês da Agência e da TV Alese acompanhando este evento que tem como foco central a discussão em torno da desigualdade profunda que atinge a população negra, os ribeirinhos, povos originários e as comunidades quilombolas. O resultado para o colonialismo, globalização e políticas neoliberais é a vulnerabilidade ambiental enfrentada pela população menos favorecida financeiramente; os dados do IBGE mostram que este grupo é formado em sua maioria por negros. O racismo estrutural no Brasil nos deixa claro que o racismo ambiental é vivenciado, sobretudo, pelos negros periféricos. É preciso agir, caso desejemos evitar os desastres ambientais e salvar vidas”, defendeu. Presente na audiência, Robério Manoel da Silva compartilhou com a análise apresentada por Linda Brasil.

Representante do Fórum dos Povos e Comunidades Tradicionais de Sergipe, além de morador da Comunidade Quilombola Pontal da Barra – município da Barra dos Coqueiros, região metropolitana de Aracaju –, o ativista lamentou que a desigualdade permaneça gerando prejuízos para famílias de baixo poder aquisitivo. “A desigualdade está nítida quando o saneamento básico chega de uma forma para os bairros nobres e turísticos, enquanto nas zonas periféricas, muito mais suscetíveis às catástrofes ambientais, a realidade é totalmente outra. Após a construção de grandes hidrelétricas, por exemplo, em caso de enchentes, os primeiros impactados são as comunidades ribeirinhas; já nas comunidades quilombolas ou periféricas, o risco envolve, também, o desmoronamento de terras. Tudo isso significa: progressos para a burguesia, e catástrofes para as famílias de baixa renda”, disse.

Mudanças climáticas

Defensor de políticas públicas de Estado capazes de combater a aceleração danosa ao meio ambiente, Renan Andrade – representante da ONG internacional ‘350.org’ –, reconhece que a crise climática é enorme, bem como é preciso que os seres humanos assumam um perfil ousado e corajoso para lutar contra estes impactos mundiais. A Organização Não Governamental defende, em caráter emergencial, os seguintes pontos de atuação: Realizar uma transição justa e imediata rumo a 100% de energias renováveis e livres para todos; Interromper novos projetos de combustíveis fósseis em todo o mundo; e, fim do patrocínio direcionado para a energia suja. Renan Andrade reverenciou ainda a 350.org Brasil como um grupo que abraça novos experimentos e soluções, pois reconhece que a crise climática exige formas inovadoras de resolver os problemas. No segundo semestre de 2019, durante uma semana, Renan realizou pesquisa com pessoas que foram atingidas direta e indiretamente pela tragédia socioambiental de Brumadinho (MG).

Natural do estado de Minas Gerais, o gestor ambiental desembarcou esta semana em Aracaju para participar da audiência pública organizada pela deputada Linda Brasil. “Costumo analisar que alguns acontecimentos não ganham a mesma atenção e comoção pelas peculiaridades de cada caso. Quando há impactos ambientais – fauna, flora e água – diretos e impactos humanos indiretos, as pessoas não tendem a se comover tanto, pois esse mundo moderno nos apartou da natureza. A sociedade não se entende como parte da terra, das águas e do ar, entendem isso como recursos para manter um padrão de vida acelerado e um consumo exacerbado. Não há tanta sensibilidade quando a natureza é maltratada, haja vista a incessante luta dos defensores de animais e ambientalistas. Esta não é a minha primeira vez em Aracaju, mas muito me deixa satisfeito em retornar e discutir este tipo de assunto”.

Fotos: Joel Luiz | Agência de Notícias Alese

Foto 03: Agência Brasil

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