No Dia Mundial de Conscientização do Autismo, comemorado durante toda esta terça-feira (02), a deputada estadual Lidiane Lucena (Republicanos) ocupou a tribuna de honra da Assembleia Legislativa do Estado de Sergipe (Alese), com a missão de reverenciar a data, bem como proferir um discurso emocionado voltado para um filho, e para todas as famílias com diagnostico para o Transtorno do Espectro Autista (TEA). Pela Organização Mundial da Saúde (OMS), este transtorno trata-se de um distúrbio do neurodesenvolvimento caracterizado por desenvolvimento atípico, manifestações comportamentais, déficits na comunicação e na interação social, padrões de comportamentos repetitivos e estereotipados, podendo apresentar um repertório restrito de interesses e atividades.
O Ministério da Saúde esclarece que, na maioria dos casos, os sinais de alerta no neurodesenvolvimento da criança podem ser percebidos nos primeiros meses de vida, sendo o diagnóstico estabelecido por volta dos 2 a 3 anos de idade. A prevalência é maior no sexo masculino. A identificação de atrasos no desenvolvimento, o diagnóstico oportuno de TEA e encaminhamento para intervenções comportamentais e apoio educacional na idade mais precoce possível, pode levar a melhores resultados a longo prazo, considerando a neuroplasticidade cerebral. Desde o momento da respectiva posse como legisladora estadual – em fevereiro do ano passado –, Lidiane Lucena tem impulsionado o trabalho voltado para as reflexões sobre essa condição, a qual não se trata de uma doença.
“Devo recordá-los que há um ano estive aqui neste mesmo plenário, nesta mesma tribuna, para falar sobre esse tema. E há um ano eu disse para vocês que o diagnóstico de autismo do meu filho do meio, Francisco, havia sido descartado. Pois bem, de lá para cá, continuei observando todas as áreas de desenvolvimento do meu filho e prossegui em busca de um diagnóstico. É por isso que eu digo que informação nesse momento é primordial. Nós precisamos de profissionais de saúde preparados para a realização do diagnóstico do autismo, nós precisamos de tratamentos adequados para as nossas crianças, nós precisamos promover a real inclusão dentro do ambiente escolar, nós precisamos preparar a sociedade porque o número de pessoas autistas diagnosticadas tem aumentado substancialmente, tanto entre crianças como também entre adultos”, destacou.
Carta aberta
Emocionada e consciente que a sua história pode inspirar famílias sergipanas a buscar por atendimento especializado de forma breve, a deputada pediu licença aos parlamentares que compõem a 20ª Legislatura para apresentar ao filho, uma mensagem pública: “Eu lembro de tudo de você. Lembro dos dois tracinhos mostrando o positivo no teste de gravidez. Lembro de quando ouvi seu primeiro chorinho e do amor avassalador que veio com você. Lembro do primeiro “mamã”, lembro de quando você bateu palminha e de quando você andou pela primeira vez. E eu espero que você lembre de todos os meus olhares cheios de alegria e amor direcionados a você. Eu sempre vou te entender, filho, mesmo que as vezes, o mundo lá fora não entenda”.
Lidiane Lucena revelou sobre o momento em que identificou indícios do transtorno do neurodesenvolvimento: “eu lembro, filho, de quando deu o estalo e pensei que você poderia ser “diferente” do que a gente vê o tempo todo. Estávamos no aniversário de seu priminho e as crianças estavam reunidas brincando e você estava afastado, sozinho e eu fui até você, me abaixei e disse para brincar com os amiguinhos e você só olhou para mim e continuou sentadinho jogando uma pedra na outra. Meu coração sangrou ali. Sangrou e pulsou de ainda mais amor. E de dor também. Não vou romantizar e dizer que não foi um susto pensar que eu teria um filho com alguma transtorno do neurodesenvolvimento. Acho que ninguém vem preparado para isso.”
Amor de mãe
“No domingo, eu tive a maior lição da minha vida. E não poderia ter vindo de outra pessoa que não do meu grande professor: do meu filho. Ao falar algumas características do TEA ao meu filho, ele me perguntou: eu sou autista, mãe!? E eu disse que sim. E eu perguntei como ele se sentiu e ele me disse: Normal! Depois de um tempinho ele me disse: “mas todo mundo é diferente do outro, ué!” É verdade, filho. E você só me ensina mais e mais a cada dia. Penso na nossa jornada e penso em seu futuro. Espero poder estar ao seu lado e numa sociedade mais justa e de fato inclusiva. Os olhares tortos incomodam. As poucas ações doem. Mas eu não vou parar. Não podemos parar. Eu sou mãe. Sou mãe atípica. Sou a mãe de Francisco”, sob intensa salva de palmas, concluiu a deputada Lidiane Lucena.
Fotos: Jadilson Simões | Agência de Notícias Alese