Por Milton Alves Júnior | Agência de Notícias Alese
Símbolo de resistência e luta contra quaisquer atos criminosos envolvendo etnia racial, o Brasil se aproxima de mais um Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra, a ser celebrado em 20 de novembro. Oficialmente instituído pela Lei nº 12.519, de 10 de novembro de 2011, esta data faz referência à morte de Zumbi, o então líder do Quilombo dos Palmares – situado entre os estados nordestinos de Alagoas e Pernambuco. Conforme presente na história da educação brasileira, Zumbi foi morto no ano de 1695, na referida data, por bandeirantes liderados por Domingos Jorge Velho. A partir da segunda metade do século XX, por volta da década de 1970, novembro – mês da Consciência Negra –, começou a ganhar força.
Esse cenário se tornou possível em virtude das ações públicas e democráticas desenvolvidas por integrantes do Movimento Negro Unificado contra a Discriminação Racial, o qual foi fundado durante a realização de um congresso no estado de São Paulo, no ano de 1978. Neste evento foi deliberado por maioria, a figura de Zumbi como um símbolo da luta e resistência dos negros escravizados no Brasil, bem como da luta por direitos que os afro-brasileiros reivindicam. Neste mesmo marco temporal, vivenciado entre 1971 e 1979, o dia 20 de novembro tornou-se a data para celebrar e relembrar a luta dos negros contra a opressão no Brasil. Com o passar das décadas, bem como a chegada do novo milênio, cada Unidade Federativa seguiu abraçando esta luta e desenvolvendo suas leis estaduais.
Em Sergipe, sucessivos atos legislativos – sejam eles por intermédio de leis ou ações sociais e educacionais –, buscam combater a “falsa liberdade escravocrata” ainda enfrentada por milhões de brasileiros. A Lei 8.738/2020, é uma dessas bases legais que atuam no combate ao racismo. De autoria da ex-deputada estadual Maria Mendonça (PSDB), através do Projeto de Lei 200/2020, a Assembleia Legislativa do Estado de Sergipe (Alese) aprovou por unanimidade a criação de uma campanha a qual deve ser realizada entre 1º de agosto e 31 de dezembro, tendo como referência o Estatuto da Igualdade Racial. Sancionada pelo ex-governador Belivaldo Chagas Silva, o PL foi criado com base no relatório anual apresentando o índice de homicídios no país. No ano de 2019, a cada três jovens brasileiros assassinados, dois eram negros.
Em ampla sintonia com os movimentos nacionais e internacionais de combate ao racismo e impulsionamento das políticas públicas, por intermédio da Escola do Legislativo Deputado João Seixas Dória (Elese), a Casa Legislativa Estadual decidiu criar o Projeto Quintas Negras. Prestes a atingir a marca de 15 edições, a atividade tem como principal objetivo reunir a população sergipana e debater acerca da temática racial, contando sempre com a participação de líderes comunitários, acadêmicos, professores, cineastas, artistas, representantes de religiões de matriz africana, servidores da Alese e parlamentares. A Escola do Legislativo também tem disponibilizado o respectivo auditório para atividades complementares, desenvolvidas, por exemplo, por diretorias, deputados e deputadas desta 20ª Legislatura.
Pendência histórica
Na concepção do deputado estadual Manuel Marcos (PSD), o Brasil segue com uma dívida histórica para com a população negra. Para o parlamentar, é de fundamental importância trabalhar na luta pela redução das desigualdades raciais. Manuel Marcos enalteceu o momento da chegada dos negros ao Brasil, em porões das embarcações portuguesas, sua subsequente exploração nos engenhos, além do angustiante não reconhecimento social e empregatício no cenário contemporâneo. “O País deveria ter gratidão à contribuição da população negra, oferecendo a todos os afrodescendentes a mesma oportunidade, através da boa escola, através de uma boa assistência médica, e oportunizando, também, galgar os níveis superiores de poder. O que resgata a gente de qualquer preconceito é saber ler e estudar, em um país que não investe na educação universal de seus filhos, sejam eles negros, brancos ou amarelos. É constitucional dar educação a todos os brasileiros”, destacou.
Leis
Na Assembleia Legislativa do Estado de Sergipe, entre outras leis aprovadas está a de nº 6.144/2007, que institui a Semana de Cultura Negra no Estado de Sergipe. A Lei nº 4192/1999, também aprovada pelos deputados e deputadas, recomenda a inclusão do Conteúdo da Cultura Negra em Concurso Público, Curso de Formação e Aperfeiçoamento do Servidor Público Civil e Militar; e institui o 19 de janeiro como Dia Estadual de Luta da Consciência Negra. Também inclui no Calendário Cívico Cultural do Estado de Sergipe, o Dia 19 de janeiro como Dia Estadual de Luta da Consciência Negra, em homenagem ao herói negro sergipano, João Mulungú. Já a Lei nº 665/2009, reconhece de Utilidade Pública, a Associação Abaô de Arte-Educação e Cultura Negra, localizada em Aracaju. A Lei nº 7.304/2011, reconhece de Utilidade Pública, a Associação Sergipana de Mulheres Trabalhadores e Negras, localizada no Sítio Bela Vista, Loteamento Guarujá, município de Nossa Senhora do Socorro.
Estatística
Uma pesquisa inédita encomendada no ano passado pelo Banco Mundial ao Núcleo de Pesquisa Afro do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap) e ao Instituto de Referência Negra Peregum, embora a população negra seja maioria no Brasil, 56%, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), essa parcela é a que tem os menores índices de acesso à educação, à saúde e ao mercado de trabalho. São também os negros que mais sofrem com os altos índices de violência e encarceramento no país. De acordo com a pesquisa, o esforço de inserção no mercado de trabalho “muitas vezes é cercado de constrangimentos que terminam por [se] constituir [em] barreiras de ingresso”, diz o texto.
Os dados nacionais mostram ainda que homens brancos profissionais e proprietários recebem, em média, R$ 8.458, enquanto as mulheres negras, profissionais e proprietárias recebem 54% menos, ou R$ 3.966. O conteúdo completo pode ser conferido no portal da Agência Brasil.