Nesta quinta-feira (27), a Assembleia Legislativa de Sergipe (Alese), por meio da Escola do Legislativo Deputado João Seixas Dória (Elese), realizou mais uma edição do projeto “Quintas Negras” e teve como convidada a professora e ex-deputada estadual, Conceição Vieira, que explanou sobre o tema “Mulheres Negras Empoderadas Celebrando a Força e a Resiliência”.
O anfitrião e Coordenador de Assuntos Culturais da Elese e Curador do Espaço Cultural Deputado Djenal Queiroz, Beneti Nascimento, falou da importância da convidada e do tema abordado.
“Conceição Vieira, é uma mulher atuante, empoderada que tem uma vivência extraordinária na política, no campo econômico, no campo social, sobremodo como gestora e sobremodo também como mulher, mãe, avó. Conceição abre oficialmente essa série de “Quintas Negras”, trazendo um tema muito importante, onde nós vivemos tempos turbulentos, em que a mulher sofre problemas seríssimos de violência doméstica, de violência no trabalho, a violência urbana, a violência social, a violência financeira. E hoje Conceição nos brinda com uma sublime reflexão sobre esse tema, pois quando se fala de empoderamento, se fala justamente da necessidade que as mulheres têm de ser empoderadas. E quando se fala de mulher negra também, porque, às vezes, a mulher negra é tratada como uma pessoa secundária. Então, a ideia é fazer desse encontro a celebração, buscando mostrar força e resiliência da mulher”, destacou.
Assim como ocorre no “Encontro com o Autor Sergipano” a Elese também traz para as “Quintas Negras”, estudantes das redes Pública ou Privada. Nesta edição, participaram cerca de quarenta alunos do 2º ano B do ensino médio do Colégio Estadual Tobias Barreto.
“A gente busca justamente trazer esses alunos, que às vezes não têm a possibilidade de discutir esses temas na escola, tão complexos, às vezes tão profundos, não é? Então a gente traz estes adolescentes, pois eles precisam começar a ouvir desses temas. Às vezes, a criança que tem uma vida violenta em casa, um pai ou um padrasto violento, fica cerceado de poder tratar dessas questões. Na escola ele pode fazer isso e a eles se propõe a trazer esses temas, essas reflexões, para que esses alunos, para essas e para outras crianças que não sofrem essa violência, mas consigam, digamos, ratificar tudo aquilo que ouviu, tudo aquilo que está ouvindo e daquilo que ainda vai ouvir”, enfatizou, Beneti.
A Convidada
Formada em Geografia pela Universidade Federal de Sergipe (UFS), Conceição Vieira é professora, psicopedagoga, terapeuta holística, pós-graduada em Educação para a Paz e Resolução de Conflitos pela Universidade Jaume (Espanha), mãe e avó, foi deputada estadual por dois mandatos, vereadora por duas vezes, secretaria estadual de Assistência Social, superintendente e Chefe da Casa Civil, secretaria municipal de Assistência Social, Educação, Cultura e Esporte, e presidente da FUNDAT e FUNCAP.
Para ela, o evento “Quintas Negras” é uma maravilha, porque reconhece a importância da história de tantos vultos, da negritude do nosso Estado, que passa despercebido, desconhecido, muitas vezes não está na mídia, não está no espaço de poder, de mandato.
“A Elese oferece uma reflexão todos os meses para as mais variadas pessoas, que mesmo no seu anonimato, nas organizações sociais, ou no reduto familiar, ou no reduto religioso, profissional, tenham a oportunidade de aqui retratar, convergir ideias, fazer uma mesa redonda, um diálogo fraterno, que propicia o conhecimento dessas pessoas para a sociedade. Então é importantíssimo, um espaço democrático dessa Casa” disse, Conceição.
Trajetória
Conceição Vieira lembrou que, aos 18 anos de idade, prestou concurso para o Estado e iniciou sua jornada profissional como funcionária da Assembleia Legislativa de Sergipe, onde desempenhou as funções de auxiliar administrativa e, posteriormente, redatora dos debates.
“Algum tempo depois agradeci ao Estado e ingressei na militância da vida. De repente estava nas militâncias social, filosófica e na militância de Educação, através de ONGs e assim fui trilhando uma caminhada no meio da sociedade. Depois, por conta dessa caminhada, ligada a movimentos sociais, filiada ao Partido dos Trabalhadores (PT), me tornei vereadora por Aracaju, por sinal a 1ª vereadora negra desta capital. Depois me tornei deputada, também a primeira deputada negra. Eu não era a 1ª deputada eleita do PT, tivemos a companheira Ana Lúcia, antes, mas me orgulha ser uma das primeiras. Considero que fui uma presença forte, vamos dizer assim, da negritude nos espaços do Parlamento Sergipano”, recordou.
Conceição se diz grata à vida e a Deus por contribuir com essa história, além dos espaços no Executivo e em outras várias pastas em que atuou.
“E hoje, estive aqui para celebrar, junto de outras mulheres e junto da juventude estudantil do nosso Estado, da nossa escola pública, o que é a importância desse segmento da sociedade: ocupar os seus espaços e ter uma oportunidade de debate, de fortalecimento da identidade da negritude aracajuana e sergipana no mês da mulher. Então, esse viés se puxa mais para a mulher, exatamente quando está no mês de Março. Então, se os espaços são diminutos para a negritude, imagina então a negritude feminina? São menores ainda, que você tem que estar o tempo inteiro mostrando, quase 24 horas, capacidade de gestão, capacidade de argumentação, resiliência, encontrar força para continuar e seguir em frente. É o que eu tenho procurado fazer com muita alegria e felicidade”, concluiu.
Flávia Ferreira, professora do ensino médio do Colégio Estadual Tobias Barreto, expressou sua satisfação sobre o que pode ouvir e absorver nesta manhã.
“Foi uma oportunidade perfeita para a gente. Principalmente agora que estamos trabalhando a disciplina de Cultura Afro-indígena. Então, “Quintas Negras”, caiu como uma luva. O que eles ouvem em debate, em sala de aula, escutaram as experiências aqui. Então, a gente ficou encantado desde quando recebemos o convite e não perderíamos por nada, pois foi uma experiência única para todos nós. Eles, enquanto muitos alunos, a gente sabe que a nossa população é extremamente miscigenada, acabam muitas das vezes não se reconhecendo, não vendo alguém com o papel, vamos dizer, de destaque na sociedade e tendo essa oportunidade de ver, ouvir as experiências e isso estimular, ter o reconhecimento e dizer: – Olha, também é possível! Embora tenham muitas portas que são fechadas, mas a gente tem que, com garra, luta, a gente alcança”, disse a professora Flávia.
E os alunos, o que acharam?
Gabriel Eduardo disse que achou muito importante, porque é um assunto que precisa ser bastante discutido.
“Até porque, a mulher preta, hoje em dia, sofre bastante com essas coisas e aqui tivemos um aprendizado que é para qualquer pessoa absorver, porque a mulher tem que ser respeitada, a mulher tem que ser elevada mais para cima ainda. E nos proporcionou mais aprendizagem, porque assim a gente consegue desenvolver mais a matéria que está sendo aplicada na sala de aula, que envolve bastante assuntos sobre a cultura negra e o empoderamento das mulheres”, definiu, Gabriel.
Para a colega de Gabriel, Hellen Victória, o “Quintas Negras” é sim, muito essencial, sobretudo, para fomentar o debate e proporcionar conhecimento, não só para os estudantes, como também para a sociedade.
“Aqui nós pudemos ter essa experiência, ter essa vivência em um lugar diferente, fora dos muros da escola. Porque é como se fosse o auditório lá da escola, mas não é. Portanto, foi uma grande experiência para a gente. Esse projeto da Elese é de muita importância e o tema foi maravilhoso, muito necessário para todos, porque a sociedade, enfim, todo mundo, deveria conhecê-lo para prestar mais atenção, ter mais uma melhor visão sobre isso, ter mais respeito, ter uma melhor opinião acerca das mulheres negras”, explicou.
Fotos Joel Luíz / Agência de Notícias Alese