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Comissão de Direitos Humanos denuncia extermínio da população negra

Por Aldaci de Souza – Rede Alese

Foi realizada na manhã desta sexta-feira, 29 no plenário da Assembleia Legislativa de Sergipe (Alese), uma audiência pública sobre o tema: Genocídio da População Negra nas Periferias. A iniciativa é do deputado Iran Barbosa (PT), com a finalidade de discutir a dura realidade de violência que atinge a população de uma forma geral, mas que tem um recorte mais intenso sobre a população negra, principalmente na periferia das cidades.

Iran diz que algo precisa ser feito para barrar o genocídio de negros

“O nível de homicídios e violência que atinge essa população tem nos preocupado e em Sergipe os dados são alarmantes; razão pela qual estamos aqui propondo através da Comissão de Cidadania e Direitos Humanos, para debatermos o genocídio da população negra nas periferias das nossas cidades. Estamos trazendo o Hamilton Borges, que é um militante dessa questão no estado da Bahia, para abrirmos um debate para conhecermos os dados, aprofundar análise, mas também interferir sobre ela, interferindo políticas”, destaca,

Segundo o coordenador da Organização Reaja ou Será Morto, do estado da Bahia, Hamilton Borges dos Santos, não é mais necessário ostentar dados. “Os dados existem no Mapa da Violência, no recente relatório sobre segurança pública no país, na própria política civil, na polícia militar; são um amontoado de números, mas precisamos é chegar aqui e mostrar os rostos dos meninos negros que estão sendo mortos nas ruas. Precisamos não apresentar dados, mas apresentar a nossa humanidade e o que nós perdemos quando esse amontoado de jovens morre, o nosso futuro enquanto povo”, entende.

Hamilton Borges: “negros são pessoas que podem ser eliminadas a qualquer momento”

Hamilton Borges destacou que o mapa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) define pretos e pardos são iguais a negros. “O pardo é aquela pessoa que está dentro da academia de musculação, passa e olha pra você com nojo; nós sabemos que essas pessoas têm avós e pais pretos, mas se sentem como brancos. O preto são as pessoas que podem ser eliminadas a qualquer momento e ninguém faz nada; somos nós pessoas retintas que somos apenas 8% da população do Brasil”, afirma.

O palestrante lamentou a existência de um projeto de extermínio do nosso povo, que está dando certo. “Isso porque não amamos as mulheres negras; nos acostumamos a dizer que amor não tem cor, que podemos procriar, fazer e sair; porque a polícia nos mata. Existe a bala que nos mata, mas antes da bala chegar, sofremos de diabetes, câncer de próstata, hipertensão arterial, estamos comendo veneno, não vamos ao médico, não temos educação apropriada. Entre 14 e 25 anos, nós morremos por causas externas: cacetadas, pauladas, tiros, facadas, murros nas cara. Somos controlados e isolados nos empreendimentos carcerários que mais uma vê, é uma leitura eficiente da escravidão, pois as pessoas vão para o sistema prisional em processo de privatização e elas vão servir de algum modo ao estado”, afirma.

Audiência é uma realização da Comissão de Cidadania e Direitos Humanos

A professora doutora do Departamento de Serviço Social da Universidade Federal de Sergipe (UFS), Tereza Cristina Santos, enfatizou que observatório quilombola revela que 73, 88 dos titulares do programa Bolsa Família, são negros. “93% são mulheres e 68% destas, são negras. Então, falar de genocídio é preciso falar em desemprego, em subemprego dessa população que tem como base, o racismo que barra e aniquila o mínimo acesso à cidadania, da morte precoce por condições de vida diferenciada”, entende.

Segundo o representante da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB/SE), Ilzver de Matos Oliveira, é importante falar sobre a responsabilidade que se tem na insistência de uma política assassina.

“Quando a gente fala desse sistema, fala desde a porta de entrada, que são as delegacias, pelo Ministério Público, pela Defensoria Pública e chega naqueles que vão decidir as nossas vidas que são os juízes e quando analisa o sistema de justiça, vê que sempre se colocou como instrumento de opressão das nossas vidas. E quando a gente olha para o nosso estado, verifica que não temos sequer uma ouvidoria pública dentro da Defensoria Pública do nosso estado, apesar da grande pressão que o movimento negro faz”, afirma.

Representantes de vários movimentos participaram dos debates

A audiência contou ainda com a participação da ex-deputada Ana Lúcia Vieira, o vereador Lucas Aribé (PSB), o delegado Mário Leony professores, estudantes, líderes de movimentos de jovens,  de quilombolas, de direitos humanos, entre outros.

Fotos: Júnior Matos

 

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