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Amor pela música mantém tradição de bandas em SE

Por Aldaci de Souza – Rede Alese

 O amor pela música levada ao público através de bandas filarmônicas e de liras espalhadas em quase todos os municípios sergipanos tem feito com que maestros, maestrinas e músicos de um modo geral resistam às constantes ameaças de extinção.

Alunos da Filarmônica de Itabaiana (Foto: Divulgação Infonet)

Eles lutam para não deixar morrer as lembranças das tradicionais retretas realizadas nos coretos das principais praças públicas de Aracaju e de tantos outros municípios. Isso além de participação em solenidades políticas e eventos religiosos.

Em Sergipe, as bandas filarmônicas ensinam crianças e jovens, impactando a vida social das famílias, elevando a autoestima, o civismo e o empoderamento social. Atuam na preservação da cultura nacional, favorecendo a formação das bandas de músicas. Um exemplo de iniciação profissional de ícones da música brasileira é o cantor Luiz Gonzaga, que foi corneteiro de uma banda da Polícia Militar.

Expressão musical

Gilberto dos Santos: “Fundamental mostrarmos a história que não foi contada” (Foto: Jadilson Simões)

O diretor da Filarmônica Santa Terezinha, do município de Japaratuba, Gilberto dos Santos,  destacou quando da participação na manhã desta segunda-feira, 18, na audiência pública sobre o assunto, promovida no plenário da Assembleia Legislativa de Sergipe (Alese), pelo deputado Dr. Samuel Carvalho (CIDADANIA), a importância de conhecer a função que exercem as bandinhas de músicas do interior.

“É fundamental mostrarmos um pouco da história que ainda não foi contada. Essas bandas de música trazem no seu contexto, a liberdade de expressão musical de uma comunidade”, diz.

Para ele, além de trazer no seu conteúdo social, aquilo que é de mais importante na comunidade, que é tirar as crianças e os adolescentes de uma situação de precariedade, muitas vezes em famílias desestruturadas, as escolinhas de música realizadas pelos componentes das filarmônicas, proporcionam a custo zero, o aprendizado da teoria e da prática instrumental.

“É preciso reconhecer na pujança musical que nós temos, de tantos mestres e maestros regentes e dar uma pequena condição de soerguer e manter na estrutura das nossas bandinhas do interior, o caráter que elas têm, na filosofia de trazer crianças, adolescentes, jovens e adultos para o estudo da percepção musical, para a instrumentação e daí termos também, mais proprietários do saber da música e grandes instrumentistas aqui em Sergipe, fomentando no Brasil e em outros países, o que aprenderam nas nossas bandinhas, surgidas no século XIX aqui no estado”, complementa Gilberto dos Santos destacando que desde muito jovem trabalha com essas bandinhas em Japaratuba.

Seguindo o pai

Ruana Brito: “Nossa filarmônica pode não chegar aos 100 anos de fundação” (Foto: Júnior Matos)

A maestrina Ruana Brito, contou que desde muito pequena vivencia o trabalho das bandas filarmônicas. “Meu pai é maestro da Banda Filarmônica Santo Antônio, de Propriá e eu já acompanho de muito tempo essa luta diária, a exemplo de tirar do próprio bolso para manter, ir buscar os músicos em casa, até mesmo em outras cidades para as apresentações”, relata.

Integrante da Filarmônica de Propriá, Ruana também exerce a função de professora e fala sobre a importância de dar continuidade à profissão. “O problema maior enfrentado por essas bandas é a falta de professores; muitas vezes chegam emendas parlamentares para comprar instrumentos, as pessoas se interessam para aprender, mas falta o dinheiro para pagar os professores e tem músico que casa, sai da banda, ou se muda para outra cidade e a banda vai se acabando. Nós precisamos de alunos para manter as filarmônicas vivas”, alerta.

A jovem maestrina disse ainda que assim como a maioria dos músicos que tocam em bandinhas, filarmônicas e liras, ela é apaixonada pelo que faz.

“A nossa filarmônica tem 92 anos de existência e a nossa preocupação é de que não consiga fazer 100 anos. Mesmo amando o que fazemos, é preciso entender que os músicos não podem continuar trabalhando de graça, muitos ainda fazem isso, mas temos as nossas vidas. Em Propriá, meu pai é o maestro, eu sou maestrina e domino a parte de palhetas, mas não recebo por isso; recebo por ser sub-regente. Eu ensino a parte de palhetas e não tem quem ensine a parte bocal; a gente pega um aluno que domina essa parte para ensinar, porque se não for assim, não teremos alunos novos”, entende.

Filarmônica de São Cristóvão (Foto: Divulgação Alfredo Ribeiro)

Em Sergipe, essas bandas estão presentes desde o século XIX em municípios como: Itabaiana e Japaratuba, Aquidabã, Arauá, Barra dos Coqueiros, Boquim, Brejo Grande, Campo do Brito, Capela, Carmópolis, Cristinápólis, Estância, Frei Paulo, Gararu, General Maynard, Indiaroba, Itabaiana, Itabaianinha, Itaporanga D’Ajuda, Japaratuba, Lagarto, Laranjeiras, Malhador, Maruim, Muribeca, Nossa Senhora da Glória, Nossa Senhora do Socorro, Pirambu, Poço Verde, Porto da Folha, Propriá, Riachão do Dantas, Riachuelo, Ribeirópolis, Rosário do Catete, Salgado, Santo Amaro das Brotas, São Cristóvão, Simão Dias e Tobias Barreto.

Cada uma delas com a sua história, desde os tempos áureos de apresentações em praças e períodos natalinos; até as dificuldades e desafios atuais. “Eu deixo de fazer qualquer coisa para assistir a apresentação de uma banda filarmônica. Já estou aguardando a Cantata de Natal que sempre acontece em dezembro na Praça Fausto Cardoso, na porta da Escola do Legislativo. Eu volto ao meu tempo de adolescente em Itabaiana”, contou d. Maria de Lourdes Ribeiro, quando acompanhava a audiência na Alese, nesta segunda-feira.

Fotos: Jadilson Simões/Júnior Matos

 

 

 

 

 

 

 

 

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