Por Aldaci de Souza – Agência de Notícias Alese
O centenário de nascimento da historiadora sergipana Maria Thetis Nunes, foi celebrado na tarde desta segunda-feira (15), durante Sessão Solene Especial no Plenário da Assembleia Legislativa de Sergipe. A iniciativa conjunta é dos mandatos dos deputados Cristiano Cavalcante e Luciano Bispo, ambos do PSD. A Srª Mírian Nunes Carvalho (sobrinha da homenageada) representou a família e recebeu a Medalha do Mérito Educacional Manoel José Bomfim.
Para o deputado Cristiano Cavalcante, essa é uma importante homenagem que a Alese está prestando a uma das primeiras mulheres a ter curso superior no estado de Sergipe. “A professora Maria Thetis Nunes tem no seu legado, a valorização da Cultura Sergipana e sem dúvida alguma merece essa justa homenagem de hoje. A historiadora foi uma mulher à frente do seu tempo; sua contribuição nas áreas da Cultura, Literatura e Magistério são exemplares. Ela abriu espaço para as mulheres na sociedade em geral, e sem dúvida alguma, ajudou a edificar e difundir a História Cultural do estado de Sergipe”, ressalta.
O deputado Luciano Bispo destacou que a homenageada era sua conterrânea. “Natural de Itabaiana, era uma grande historiadora e a primeira mulher sergipana a ingressar na Universidade Federal de Sergipe, quebrando tabus e escrevendo história sobre Sergipe e sobre Itabaiana. A Assembleia se sente honrada em homenagear essa mulher”, diz agradecendo ao presidente da Alese, deputado Jeferson Andrade pela oportunidade de presidir a Sessão Solene e ao líder do Governo, deputado Cristiano Cavalcante por tê-lo convidado para, como itabaianense, subscrever a propositura.
A deputada Linda Brasil (PSOL) lembrou que a professora Maria Thetis Nunes foi a responsável por formar homens e mulheres de grande referência em Sergipe. “Mulheres como Maria Thetis são fundamentais para que a gente possa viver em uma sociedade em que o amor, o acolhimento e o olhar social prevaleçam. Ela deixa um legado muito importante para a educação”, diz informando que um projeto de sua autoria, institui o Ano Maria Thetis Nunes.
Família
Familiares da homenageada estiveram presentes. Mírian Nunes Carvalho, fez um relato muito descontraído sobre quem foi e o que representou a tia a quem todos os chamavam de ‘dindinha’.
“Dindinha Thetis, era madrinha da prima Ana Angélica, mas assim era tratada no ambiente familiar pelos oito sobrinhos. Adorávamos ir ao apartamento no Edifício Atalaia, onde sempre havia presentes e guloseimas; e passear no seu carrão que ela trouxe da Argentina nas tardes de domingo; mesmo ela sendo uma péssima motorista. Era muita adrenalina. Perdeu seu pai aos quatro anos de idade, mas seguiu com sua mãe e irmãos para a capital onde pôde testar o exame de admissão no Colégio Atheneu e completar seus estudos. Uma mulher pobre, nascida no interior nordestino brasileiro, poderia ter tido outro destino e graças aos professores, amigos e familiares; do exemplo de coragem herdado de sua mãe e de sua avó e do sentimento de liberdade herdado do seu pai, traçou seu plano de voo e com muita perseverança e força interior, conseguiu executá-lo, tornando-se um grande ser humano”, destaca agradecendo a Alese pela homenagem.
O diretor do Colégio Atheneu Sergipense, Daniel Lemos destacou que a homenageada se tornou sinônimo de excelência de dedicação e amor à educação. “Com o coração repleto de gratidão e admiração celebramos o centenário de Maria Thetis Nunes, uma figura icônica, que deixou uma marca indelével no hoje Centro de Excelência Atheneu Sergipense. Ela transcendeu o papel de aluna, professora e diretora. Com sua força incansável foi o farol brilhante que guiou a geração de estudante mostrando o caminho para o conhecimento e a realização de seus sonhos mais grandiosos”, observa.
Segundo o professor e historiador Jorge Carvalho, é muito bom que o Poder Legislativo de Sergipe tenha decidido homenagear a professora Maria Thetis Nunes.
“Ela é uma das figuras mais importantes da vida de Sergipe; uma mulher que nasceu na primeira metade do século XX em Itabaiana; saiu para prosseguir os estudos no Atheneu, depois para a Faculdade de Filosofia na Bahia e no último ano foi aprovada em concurso para professor catedrático do Atheneu; foi diplomata representando o Brasil na Argentina; autora de muitos estudos sobre Sergipe Colonial, passou um ano em Portugal e microfilmou todos os documentos do período colonial que tinham referências para Sergipe. Hoje esses documentos estão no Instituto Histórico e Geográfico e na Universidade Federal de Sergipe para quem quiser pesquisar”.
O presidente da Academia Sergipana de Letras, Anderson Nascimento, afirmou que ser importante a iniciativa da Alese.
“Thetis Nunes foi uma grande sergipana do século passado e teve uma contribuição enorme para a vida educacional do Estado de Sergipe, sendo a primeira diretora do Colégio Atheneu Sergipense; importante na Universidade Federal de Sergipe, em missões internacionais e no Instituto Histórico de Sergipe, contribuindo muito com livros publicados sobre Sergipe Colonial, Sergipe Provincial, na Gazeta de Sergipe, com uma participação muito ativa”, relembra.
O assessor parlamentar e secretário geral do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe, Rivadálvio Lima, conviveu com Thetis Nunes. “No dia a dia ela era uma pessoa recatada e de poucas conversas. Thetis era uma pessoa singular porque abriu caminho. Convivi com ela no terceiro e quarto anos do Curso de Licenciatura em História, quando foi minha professora de História do Brasil e de História Contemporânea. Tinha uma conversa agradável, falava de suas viagens e de seus passados; ela abriu para as pesquisas sobre o ser da História de Sergipe, pois não tínhamos livros didáticos que aprofundassem o tema”, afirma.
A professora Josevanda Franco, presidente da Associação Itabaianense de Letras, lembrou que a homenageada abraçou o Magistério como a razão de vida. “Ela foi minha professora de História no final da década de 70 e tinha uma forma diferente de se expressar colocando todas as viagens que fez. É uma referência de mulher que nos projetou e deu ao Magistério de Sergipe um compromisso de lealdade e amor à profissão. A professora Thetis tinha o orgulho de ser ceboleira e uma das primeiras mulheres a se profissionalizar e dirigir o Atheneu”, ressalta agradecendo o momento de celebração na Assembleia Legislativa de Sergipe.
A presidente da Fundação Aperipê, Antônia Amorosa comemorou o fato de a Alese estar com o Plenário e as galerias repletas em plena segunda-feira, confirmando a importância da historiadora. “Quando fazemos um encontro como esse, é Sergipe se reencontrando; é mostrar que a educação tem que continuar, a Cultura tem que permanecer e nós temos um papel importante nesse processo. Devemos agradecer aos deputados Luciano Bispo e Cristiano Cavalcante e a todos que aqui se encontram”, diz cantando de improviso a música A Noite do Meu Bem, de Noel Rosa,
A Mesa foi composta na Sessão Especial pelos deputados Luciano Bispo e Cristiano Cavalcante, o secretário de Educação de Aracaju, Ricardo Nascimento Abreu representando o prefeito Edvaldo Nogueira; a presidente da Fundação Aperipê, Antônia Amorosa, representando o governador Fábio Mitidieri; a presidente da Associação Itabaianense de Letras e secretária da Educação de Nossa Senhora do Socorro, Josevanda Franco e a professora Silvana Bretas, representando o reitor da Universidade Federal de Sergipe (UFS), Valter Joviniano de Santana Filho.
Biografia
Maria Thetis Nunes nasceu em 1923, na cidade de Itabaiana, tendo iniciado sua formação escolar em sua cidade natal e anos depois, ingressado no Colégio Atheneu Sergipense, em Aracaju, período em que se apaixonou pelas aulas de História, ministradas pelos professores Felte Bezerra e Arthur Fortes.
Foi aprovada para a primeira turma de História e Geografia da Faculdade de Filosofia da Universidade Federal da Bahia. Também se formou em Museologia pela Museu Histórico Nacional.
Foi professora e pesquisadora da Universidade Federal de Sergipe, além de membro da Academia Sergipana de Letras e presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe por um período de 30 anos.
Escreveu vários livros, artigos e ensaios, a exemplo da obra “História da Educação em Sergipe”, publicada em 1984, tendo virado referência na área. O livro analisa a educação no Estado do período colonial até o fim da Primeira República, em 1930.
A historiadora morreu em em 2009, aos 86 anos, deixando um legado importante para o entendimento da historiografia sergipana.
Fotos: Joel Luiz/Alese