Numa sessão histórica, a Assembleia Legislativa de Sergipe concedeu, na tarde desta segunda-feira, 05, o Título de Cidadania Sergipana in memoriam ao Patrono da Educação Sergipana e Brasileira, Paulo Freire. Emocionada, a deputada estadual Ana Lúcia entregou a honraria nas mãos da doutora e historiadora Ana Maria Araújo Freire, viúva do professor que fez uma revolução na concepção da educação no país, pautada numa concepção libertadora.
A homenagem a Freire é resultado de uma propositura de autoria do saudoso Marcelo Déda, no período em que ele foi deputado estadual, ainda no final dos anos 1980, e foi retomada pela deputada estadual Ana Lúcia, que foi responsável pela articulação para que a homenagem pudesse ser entregue a Ana Freire. Ana Lúcia também é autora da Lei 7.382/2012, que institui Paulo Freire como Patrono da Educação Sergipana.
Durante a solenidade, a deputada Ana Lúcia rememorou a trajetória de Paulo Freire, dedicada às pesquisas e práticas pedagógicas libertadoras. “A dimensão libertadora da pedagogia de Paulo Freire visa contribuir mais para que homens e mulheres compreendam que são sujeitos de suas próprias histórias. Ele defendia uma ação educativa que não negasse sua cultura, mas que fosse transformada por meio do diálogo”, destacou a parlamentar.
Em seu discurso, Ana Freire lamentou o retrocesso vivenciado pelo Brasil devido ao golpe e destacou a amplitude e atualidade da obra de Paulo Freire. “Aquele golpe civil-militar de 1964, era uma coisa que já vinha sendo fomentada há muito tempo pelos militares e os que se consideravam os donos do país: latifundiários e industriais. Hoje estamos vendo novamente um golpe. Um golpe como aquele de 1964, feito na surdina”, destacou, sob palmas e gritos de “Fora Temer”, entoados pelos presentes na solenidade.“Paulo Freire continua incomodando muito. Continua incomodando a todos os que pensam que podem deter a marcha da história”, completou Ana Freire.
Chaves de leitura
Para Ana Lúcia, o pensamento de Paulo Freire sinaliza chaves de leitura para compreendermos o Brasil atual e os problemas educacionais do nosso país “Por isso conclamo a todos e a todas para juntos reafirmarmos a pedagogia libertadora em contraposição aos defensores das teses da meritocracia e da sem fundamento escola do partido único. O que sempre incomodou aos algozes e opressores, de ontem e de hoje, foi a compreensão de Paulo Freire de que não existe educação neutra”, apontou Ana Lúcia
A parlamentar destacou ainda que, dentre outras coisas os que defendem o projeto escola sem partido querem aprovar leis impondo a mordaça aos professores e professoras, além de orquestrarem ataques a Paulo Freire, com o falso argumento que o seu pensamento orienta os docentes a praticarem a doutrinação política dos estudantes.
A concepção foi reafirmada por Ana Freire, que reforçou a tese de que Paulo Freire não é um “doutrinador marxista que copiou Engel e Marx”. “Paulo criou uma teoria de conhecimento a partir sobretudo da sua sensibilidade, amorosidade, constatação da realidade nordestina, sofrida, explorada e oprimida. Dentro de uma compreensão maior do que seja esta educação para humanização, estava imbricado um método de alfabetização”, explicou a viúva, que é detentora legal das obras do pensador.
Representatividade
Educadores de diversos municípios sergipanos, lideranças jovens, estudantes, militantes sociais e sindicais prestigiaram a homenagem ao mais célebre educador brasileiro, com atuação e reconhecimento internacionais pelas suas pesquisas, estudos e práticas pedagógicas, sobretudo no campo da alfabetização de adultos.
Também estiveram presentes na solenidade o vereador Iran Barbosa, representando a Câmara de Vereadores de Aracaju, a pró-reitora de extensão, Maira Conceição Almeida Vasconcelos; Ângela Melo, membro da Direção Nacional da CUT; Ivonete Cruz, presidente do SINTESE e Maria Luci Silva, representado o Instituto Marcelo Déda, além do vereador e presidente da Câmara de Japaratuba Luciano Acciolle.
Por Assessoria Parlamentar